Saiba como escolher equipamentos para observação astronômica

Flávio Dourado
Especial para o UOL Ciência e Saúde

O objeto de desejo de todo astrônomo amador é um telescópio ou mesmo um binóculo. Entretanto, antes de comprar instrumentos caros como esses, é preciso pesquisar e se informar sobre detalhes técnicos, possibilidades e recursos do equipamento. Algumas dicas podem ajudar os mais inexperientes:

A marca é o primeiro fator a ser observado. "É preciso estar atento porque há muita picaretagem nesse mercado", alerta o físico e astrônomo amador, Dulcídio Braz Jr. Por isso, a melhor saída é apostar em marcas conhecidas e respeitadas, como Meade, Celestron e Orion. De acordo com o diretor da Astroshop (revendedora de instrumentos óticos), Max Oliver, a SkyWatcher e a GS Optics também são confiáveis, pois fornecem seus produtos para as três marcas já citadas.

Investir em instrumentos sofisticados e caros para iniciantes e crianças é um desperdício. Segundo Oliver, usuários deste perfil devem optar por equipamentos básicos, como um binóculo e, posteriormente, um telescópio mais simples. "Assim a pessoa gasta pouco, consegue aproveitar os recursos tecnológicos disponíveis e testa se realmente gosta de observar o céu", diz.

O binóculo é sempre indicado por dois números AxD, em que A representa a capacidade de ampliação e D, o diâmetro da lente (abertura para entrada de luz). Para "calcular" se um binóculo é adequado à observação astronômica, basta dividir o valor de D pelo valor de A. Se o resultado for próximo de 7, o equipamento vale a pena.

O modelo 7x50 é o mais recomendado para iniciantes. O 10x50 também vale o investimento, pois tem a mesma captação de luz e um poder de aumento maior. Entretanto, o ganho em ampliação pode se tornar um problema para pessoas inexperientes. "Quanto maior o aumento, maior será a dificuldade de manter os objetos em foco e parados no campo de visão", adverte o diretor de programação do GEA (Grupo de Observação Astronômica, de Florianópolis), Antônio Lucena.

Há três tipos de telescópios: o refrator, que utiliza uma lente objetiva para captar a luz; o refletor, que utiliza um espelho no lugar da objetiva; e o catadióptrico, que utiliza tanto objetivas quanto espelhos. O refletor é o mais indicado para iniciantes, pois apresenta a melhor relação custo-benefício: são mais baratos (oferecem maior abertura por Real investido) e rendem boas imagens.

Os telescópios podem ser montados sob o tripé de duas formas diferentes. Na montagem equatorial, o telescópio é alinhado ao eixo de rotação da Terra e se movimenta apenas na horizontal, o que facilita o rastreamento dos objetos celestes. Já na altazimutal, o telescópio movimenta-se tanto na vertical quanto na horizontal. Por isso, precisa ser ajustado constantemente durante a observação, para compensar a mudança de posição dos astros. Apesar desse inconveniente, a montagem altazimutal é a mais indicada para iniciantes, porque é simples de usar, leve, estável e barata.

Os telescópios apresentam, como os binóculos, duas dimensões principais, do tipo AxD. A indica a abertura (diâmetro) da lente objetiva ou, no caso dos refletores, do espelho. D indica a distância focal, que é a distância necessária para a lente ou espelho focalizar a luz. Os iniciantes devem optar por modelos simples e menores, como os telescópios de 120mm x 750mm, mais baratos e fáceis de carregar.

Para calcular o aumento proporcionado por um telescópio, basta dividir o valor da distância focal pelo valor do diâmetro da ocular (lente acoplada ao tubo, por onde se olha a imagem). Entretanto, o poder máximo de ampliação não deve exceder o diâmetro, em milímetros, da objetiva ou espelho, conforme alerta Lucena. "O telescópio pode até conseguir ampliar mais que isso, mas a imagem não passará de um borrão".

O que qualifica um bom telescópio não é a capacidade de ampliação da imagem, mas a abertura oferecida. "Os iniciantes não devem se deixar levar pela ilusão do aumento. É melhor ter uma imagem nítida e bem visível que uma imagem grande, porém escura", reforça Lucena.