O atendimento ao paciente nos estágios iniciais da dengue foi um dos pontos de destaque de audiência pública realizada nesta terça-feira na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado.
Para melhorar o serviço ao paciente, os postos da rede básica de atenção à saúde deveriam ficar abertos também aos finais de semana, além de ampliar o horário de funcionamento nos dias úteis. O apelo foi feito pelo secretário-adjunto de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Fabiano Pimenta Júnior.
"Uma hidratação pode demorar até seis horas. Hoje, se uma criança chega a um destes postos às quatro horas, não vai ser hidratada ali, vai ser referenciada para outro local. Se o funcionamento fosse até as dez da noite, por exemplo, ela poderia receber atendimento ali no posto mesmo", exemplifica o secretário-adjunto.
Outro problema decorrente da limitação dos horários dos postos, segundo Pimenta, é que os hospitais ficam superlotados. "Os postos precisam abrir aos finais de semana para não sobrecarregar os hospitais". Para ele, a sociedade carioca deve ajudar a pressionar pela abertura dos postos.
O secretário-geral da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Pedro Luiz Tauil, lembrou que em Niterói, a questão do atendimento já é tratada da forma ideal. "Em Niterói, as pessoas com suspeita de dengue tinham acesso 24 horas aos serviços de saúde. Elas passavam por uma triagem e iam para o soro ou internação, dependendo do caso".
RespostaCom relação ao apelo feito pelo secretário-adjunto de Vigilância em Saúde, a Secretaria Municipal de Saúde do município do Rio informou, por sua assessoria de imprensa, que já coloca 21 unidades, sendo cinco postos de saúde, à disposição da população 24 horas. Afirmou, também, que "está trabalhando de forma intensa para possibilitar, em breve, o funcionamento de mais unidades de saúde nos fins de semana".
PediatrasTambém para reforçar o atendimento, a secretaria de Estado da Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro pediu que 154 pediatras de outros Estados fossem deslocados para a capital fluminense para ajudar no atendimento aos pacientes. Conseguir estes profissionais, no entanto, está sendo difícil, segundo Jurandi Frutuoso, secretário-executivo do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
"Não está fácil conseguir pediatras. Os Estados dizem que não têm como disponibilizar estes profissionais. Mas o Rio de Janeiro conta com a solidariedade neste momento", disse, durante o encontro no Senado, acrescentando que uma reunião com representantes do Conass e do Ministério da Saúde está marcada para esta quinta-feira, no Rio de Janeiro, e deverá tratar destes temas.
Outro assunto que está previsto para ser discutido é o futuro das ações de combate à dengue no Rio. "É preciso somar esforços para garantir a continuidade das ações em um ambiente de eleição, como o deste ano, para que os próximos governos mantenham os trabalhos", ressaltou Fabiano Pimenta.
NúmerosO Ministério da Saúde trabalha com um número oficial de 48 mortes causadas pela dengue este ano, em todo o país. O número informado pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, no entanto, é de 67 mortes (sendo 44 na capital). Segundo o secretário-adjunto de Vigilância em Saúde, a diferença deve-se ao fato de que o ministério considera apenas casos confirmados.
"É lógico que a estatística é maior", admitiu Fabiano Pimenta, explicando que o dado oficial pode demorar até 60 dias para chegar ao Ministério da Saúde, pela necessidade de investigação da causa da morte e pelo próprio tempo de tramitação dos dados.
O secretário-adjunto apresentou números sobre a situação da dengue nas regiões brasileiras nos dois primeiros meses deste ano, destacando a queda de 27,05% em relação ao mesmo período do ano passado. Em números absolutos, foram notificados 98.787 casos este ano, contra 135.425 casos em 2007. As regiões Sul e Centro-Oeste tiveram queda de 56,88% e 79,06%, respectivamente.
No Sudeste, houve aumento de 4,85% nos casos notificados, que chegaram a 40.279. A contribuição maior foi do Estado do Rio de Janeiro, que apresentou um crescimento de 211,09%, passando de 10.464 para 32.552 casos. A incidência na população geral, contudo, foi considerada média, com 206,8 casos a cada 100 mil habitantes.
O Estado com a maior alta foi o Amazonas, que registrou 282 casos nos primeiros dois meses do ano passado e, em 2008, chegou a 3.080 (aumento de 992,20%). A incidência na população, no entanto, foi considerada baixa pelo Ministério da Saúde, pois não atingiu os 100 casos a cada 100 mil habitantes.
A região norte inteira contabilizou 19.747 casos de dengue nos primeiros meses deste ano. No Nordeste, foram 23.808 casos. No Centro Oeste foram 11.905 (contra 56.840 no ano passado), e o Sul registrou 3.048 casos em 2008.