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22/12/2008 - 21h06

Cientista americana defende uso de células embrionárias para pesquisas de fertilidade

Por Claudia Dreifus
The New York Times
Como diretora do Centro para Pesquisa e Educação de Células-Tronco Embrionárias de Stanford, Renee A. Reijo Pera, 49 anos, professora de obstetrícia e ginecologia, trabalha no centro da controvérsia sobre as células-tronco embrionárias humanas. Ela usa embriões humanos para criar novas células que depois são induzidas a virar óvulos e espermatozóides. Em outra pesquisa, ela também identificou um dos primeiros genes associados à infertilidade humana. As perguntas e respostas abaixo foram editadas a partir de uma conversa de duas horas e uma posterior entrevista feita por telefone.

P: Por que você está tentando criar óvulos e espermatozóides humanos?

R: Porque isso vai nos ajudar a encontrar a resposta para distúrbios como a síndrome de Down e algumas doenças neurodegenerativas que se desenvolvem no óvulo, no espermatozóide ou no embrião. Nossa hipótese é que se não tratarmos o DNA logo no primeiro ou no segundo dia de vida, você pode acabar desenvolvendo doenças e problemas. Então, ao aprender o que a natureza faz e repeti-lo em laboratório, esperamos descobrir o que deu errado - e, depois, descobrir como corrigi-lo.

P: Quais os avanços dessa pesquisa?

R: Estamos na metade do caminho, mas não sei ao certo se concluímos a parte mais fácil ou a mais difícil. Em laboratório, conseguimos fazer com que células-tronco produzissem células germinais meióticas, aquelas que dão origem aos óvulos e espermatozóides. O que ainda não conseguimos foi descobrir quais suplementos seriam dados às células para transformá-las em células germinais capazes de produzir embriões. Sob uma perspectiva otimista, estamos a três ou cinco anos de conseguir essa façanha.

P: Em discursos, você afirma que a pesquisa com células-tronco deve ser considerada uma questão de saúde da mulher. Por quê?

R: Porque no meu laboratório estamos usando a pesquisa de células-tronco para buscar formas de tornar os tratamentos para infertilidade mais seguros e mais racionais.

Considerando toda a frustração e os custos dos tratamentos de infertilidade, este tipo de pesquisa é algo que as mulheres devem defender, acredito eu.

Agora mesmo, não conhecemos completamente a aparência de um embrião saudável em laboratório. Por isso, clínicas de fertilização in vitro geralmente inserem vários embriões em uma mulher para tentar aumentar as chances de uma implantação de sucesso. As pacientes freqüentemente têm gêmeos múltiplos ou abortos devastadores. Metade das vezes, os embriões não sobrevivem. Se pudéssemos descobrir como é um embrião saudável e qual é o melhor meio para ele crescer, eliminaríamos tudo isso.

P: Quando George Bush anunciou a proibição, em agosto de 2001, de financiamentos federais para novas pesquisas com células-tronco, o que você pensou?

R: Primeiro, fiquei chocada por um presidente estar falando sobre ciências biológicas! Depois de assimilar a idéia, fiquei grata por ele não ter ordenado uma proibição total de todas as pesquisas nessa área.

Como você deve se lembrar, ele ordenou a proibição de financiamentos federais para novas linhas de células-troncos, mas autorizou o trabalho em colônias antigas dessas células, derivadas de embriões - "linhas" - já existentes. Das linhas permitidas, deveria haver algo entre 60 e 70, apesar de relatórios informarem que na verdade só existem cerca de 20 linhas onde se pode trabalhar. Acredito que só existam 11 que realmente podem crescer bem.

Tem havido boas e más notícias. Surpreendentemente, pelo fato dos cientistas terem sido limitados a trabalhar com essas poucas linhas, aprendemos muito sobre um pequeno grupo de células-tronco embrionárias. Aprendemos bastante sobre a genética dessas linhas, e fomos capazes de estabelecer comparações entre elas. Isso poderia não ter acontecido se os pesquisadores estivessem usando todos os tipos de linhas diferentes de vários lugares.

A má notícia é que as linhas disponíveis acabaram por ser geralmente de qualidade inferior - muitas cresceram em um meio que continha produtos animais. Para estudar a reprodução humana no nível em que estamos, não seria bom usá-las. A conclusão é: apesar de termos melhorado nossos métodos para produzir células-tronco embrionárias, ainda estamos limitados a usar essas linhas de células-tronco de qualidade inferior, que não são valiosas para aprendizagem sobre o desenvolvimento embrionário humano.

Esperamos, no futuro, poder estudar linhas mais novas produzidas sob condições menos restritas. Espero que haja uma mudança nessa política.

P: Bom, então o que você usa no laboratório agora?

R: Nosso laboratório não é financiado pelo governo federal. Recebemos nosso dinheiro da iniciativa de células-tronco da Califórnia, da ordem de US$ 3 bilhões. Produzimos nossas próprias células-tronco a partir de embriões doados por famílias que fazem fertilização in vitro.

P: Você tem conflitos morais por usar embriões humanos em sua pesquisa?

R: Não posso dizer que sim. E eu sempre me questionei sobre isso. Cresci em um ambiente profundamente cristão. Minha irmã é evangélica. Tenho certeza que houve momentos na minha vida em que não fui uma cristã modelo, mas meu trabalho com células-tronco não é um desses momentos.

Pense nisso: estudamos embriões doados por casais que terminaram seus tratamentos de fertilização in vitro. Eles seriam descartados de qualquer forma. Em todo o país, as clínicas descartam cerca de 40 mil embriões não-utilizados a cada ano - ainda assim, poucas pessoas consideram clínicas de fertilização in vitro "imorais". Pesquisadores de células-tronco utilizam cerca de 10 mil dos embriões prestes a serem descartados. Ao aprender com eles, estamos obtendo informações que não podemos conseguir em nenhum outro lugar, que tornarão mulheres e bebês mais saudáveis.

Algumas pessoas acreditam que, quando usamos embriões para qualquer tipo de pesquisa, nossa sociedade se endurece. Busquei uma resposta para isso dentro de mim, e não acho que estou endurecida. Posso dizer honestamente que ainda me arrepio quando vejo embriões se desenvolverem. Você espera ser humilde o suficiente para absorver a informação e não mudar seu curso.

Se houvesse realmente um substituto melhor para entender o desenvolvimento humano que a pesquisa embrionária, seria isso que eu faria. Mas não existe. É ali onde estão as informações. Não acho bom jogar fora embriões humanos - sem antes estudá-los.


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