08/08/2007 - 16h39
Fósseis revelam que dois tipos de ancestrais do homem coabitaram
Por Julie Steenhuysen, de Chicago
Um crânio e o maxilar superior de duas das mais antigas ramificações da árvore genealógica dos seres humanos -- o Homo erectus e o Homo habilis -- indicam que os dois tipos de ancestrais do homem viveram bem próximos um do outro por cerca de 500 mil anos, disseram pesquisadores na quarta-feira.
Os fósseis, descobertos no leste da África, põem em xeque a idéia de que os seres humanos tenham evoluído em sequência, desde o Homo habilis até o Homo sapiens, passando pelo Homo erectus.
"Havia a noção que indicava que o Homo habilis foi se desenvolvendo lentamente até chegar a H. erectus", disse Susan Anton, professora de antropologia da Universidade de Nova York. "Agora temos os dois coabitando, portanto isso não pode ter acontecido."
A pesquisa, publicada na revista "Nature", foi conduzida por nove cientistas, entre eles Anton, a paleontóloga Meave Leakey e sua filha Louise Leakey -- ambas da Sociedade National Geographic--, e Fred Spoor, do University College London.
Os dois fósseis foram encontrados no ano 2000 a leste do lago Turkana, no Quênia, dentro do projeto de pesquisa Kooby Fora, ligado aos Museus Nacionais do Quênia.
A proximidade entre eles indica que as duas espécies tinham fontes de alimento e comportamentos diferentes, para permitir que vivessem tão próximas entre si sem ser extintas.
"Fica a dois ou três minutos de caminhada", disse Patrick Gathogo, da Universidade de Utah, que ajudou a estudar as camadas geológicas. "Elas devem ter interagido entre si", disse numa entrevista por telefone.
O osso da mandíbula do Homo habilis data de 1,44 milhão de anos atrás, e é mais recente que outros fósseis conhecidos da espécie. "O novo fóssil de mandíbula sugere que o Homo habilis era uma espécie-irmã do Homo erectus, vivendo mais ou menos ao mesmo tempo, e não a espécie-mãe, que teria dado origem a ele", afirmou Spoor numa nota.
O segundo fóssil, encontrado na mesma região do norte do Quênia, é um crânio bem preservado de Homo erectus, que data de cerca de 1,55 milhão de anos atrás.
O que chama a atenção nesse fóssil é seu tamanho. É o menor crânio de Homo erectus já encontrado, e revela um panorama diferente sobre a espécie, indicando que havia mais diversidade do que imaginavam os pesquisadores. Uma das possibilidades é que a espécie apresentasse o dimorfismo sexual, como os gorilas, em que os machos têm crânios bem maiores que as fêmeas. Segundo os cientistas, trata-se de uma característica primitiva. "Isso torna o Homo erectus um pouco menos parecido conosco", disse Anton.
De acordo com Spoor, todas as evidências disponíveis ainda sugerem que o Homo sapiens evoluiu a partir do Homo erectus, num processo que aconteceu na África há mais de 1 milhão de anos.