Os planos de saúde privados estão livres para aceitar novos clientes sem ter de ampliar a rede de atendimento. Só no Estado de São Paulo, de 2006 a 2008, mais de 1,2 milhão de pessoas entraram para o sistema privado de saúde. E não há como fiscalizar a qualidade do serviço, pois faltam parâmetros sobre o número ideal de usuários por quantidade de estabelecimentos de saúde credenciados pelas operadoras. Nem mesmo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) sabe dizer se a proporção atual entre usuários dos planos de saúde privados e os equipamentos disponíveis é adequada.
"Hoje, não se sabe qual seria a quantidade ideal de leitos para atender a contento toda a rede de usuários de planos de saúde", admite Ceres Albuquerque, gerente-geral de Informação e Sistema da ANS, justificando que o cálculo seria muito complexo. A agência apurou, em abril, a quantidade de hospitais, clínicas e prontos-socorros privados existentes no Estado de São Paulo. Foi possível constatar que existe, por exemplo, um pronto-socorro especializado para cada 1,4 milhão de segurados. "Pesquisar os estabelecimentos de saúde existentes hoje já é o primeiro passo para que, no futuro, possamos estabelecer um parâmetro e melhorar a regulação do setor", afirma o gerente.
Para Márcio Bichara, secretário de Saúde Suplementar da Federação Nacional dos Médicos (Fenam) e representante do Conselho Federal de Medicina (CFM), a ausência desse indicador é a principal causa dos problemas que atingem os segurados de planos de saúde. "A maioria das pessoas que tem convênio sabe que a espera nos hospitais e consultórios só aumentou nos últimos anos", afirma Bichara. "E isso acontece porque a quantidade de conveniados cresceu sem que a rede privada de hospitais e clínicas tenha sido ampliada."
Atualmente, com 16,8 milhões de usuários só em São Paulo, não se pode dizer quantos novos hospitais o Estado ganhou nesse período - a ANS não apurou esse dado nos anos anteriores e nenhum outro órgão, público ou privado, parece dispor da informação. "Não há como medir o problema, mas é triste constatar que o segurado de plano de saúde que reclamar de demora no atendimento estará desamparado pela legislação", reconhece Renata Molina,técnica da Fundação Procon-SP. "O máximo que o Procon pode fazer é pressionar a empresa para que ela atenda seu cliente o mais rápido possível."
DemandaSolange Beatriz Mendes, presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fenasaúde), argumenta que mesmo sem uma limitação estabelecida pela ANS, não é de interesse das operadoras abarrotar sua rede de atendimento. "Nenhuma empresa vai querer acabar com sua reputação ao deixar seus clientes desassistidos", diz. Para Solange, a rede de atendimento será ampliada se houver demanda. "Os administradores de hospitais só não aumentariam a rede caso não houvesse mesmo clientes suficientes para preenchê-la". A Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp) não quis comentar os dados da pesquisa. As informações são do
Jornal da Tarde.
AE