Um veneno, que em sua ação natural provoca dor, edema e até necrose, pode se tornar um antiasmático inovador nos próximos anos. Essa é a aposta de um grupo de pesquisadores do Instituto Butantã, que trabalha com o peçonhento niquim (
Thalassophryne nattereri), peixe bastante conhecido nas regiões Norte e Nordeste por seu potencial de causar acidentes.
A equipe originalmente observou que um peptídeo (trecho de proteína) presente no veneno continha propriedades antiinflamatórias. Após dois anos de desenvolvimento, os pesquisadores perceberam que a ação contra alergias respiratórias é a mais promissora, em especial contra asma. "Nossa intenção é desenvolver uma droga que possa ser consumida por outras vias que não as aéreas. Visamos à aplicação para dois grupos de risco, mulheres grávidas e crianças", conta Mônica Lopes Ferreira, líder do projeto, que conta com o apoio do Centro de Toxicologia Aplicada (CAT).
Mais do que isso ela não informa, por causa do sigilo com a indústria farmacêutica - a maior parte do financiamento da pesquisa vem da empresa Cristália. Ela só adianta que foram produzidos 12 sintéticos menores do que a molécula original, a fim de baratear sua replicação. Um deles foi eleito o melhor, por ser de fácil síntese e ter demonstrado uma eficácia tão boa quanto a do peptídeo original. Agora a molécula está sendo testada em animais.
A experiência com o niquim levou o grupo a estudar outros peixes peçonhentos encontrados no Brasil: as arraias (gênero
Potamotrygon), o bagre de mar (
Cathorops spixii) e o de rio (gênero
Psedoplatystoma) e o peixe-escorpião (
Scorpaena plumieri). As pesquisas com essas toxinas, no entanto, não estão tão avançadas quanto com a do niquim. Nesse meio tempo, Mônica tenta encontrar uma forma de tratar os dolorosos acidentes provocados pelos peixes. Sua equipe está desenvolvendo um soro poliespecífico com o veneno dos quatro peixes, que pode servir para eles, mas também outra espécies dos mesmos gêneros. As informações são do
Jornal da Tarde.