BUENOS AIRES, 17 abr (AFP) - Uma empresa privada de biotecnologia anunciou nesta terça-feira, em Buenos Aires, o nascimento das primeiras quatro vacas transgênicas criadas na Argentina para a produção de insulina a partir do leite para uso no ser humano, um projeto que terá grande impacto entre os diabéticos.
A produção local de insulina a partir de leite de vaca permitirá reduzir em "não menos de 30%" o custo do hormônio no mercado, de acordo com a empresa de biotecnologia que anunciou o experimento |
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As vacas são quatro bezerras da raça Jersey, nascidas entre fevereiro e março de 2007, que possuem em seu material genético o gene precursor da insulina humana, informou Andrés Bercovivh, gerente de desenvolvimento tecnológico do laboratório Biosidus.
As novilhas integram a dinastia denominada "Patagonia", o primeiro gado transgênico desenvolvido no curral farmacêutico do laboratório.
Lá são desenvolvidas pesquisas para produção de medicamentos com alta tecnologia a custos baixos, informaram os diretores da empresa em entrevista coletiva na Sociedade Real, a instituição que a cada ano sedia a mais tradicional exposição agropecuária do país.
A produção local de insulina a partir de leite de vaca permitirá reduzir em "não menos de 30%" o custo do hormônio no mercado, disse o diretor-executivo da empresa, Marcelo Criscuolo.
Mas o leite que estas vacas transgênicas produzirão é uma etapa intermediária na elaboração da insulina, pois em seguida será necessário um processo de isolamento e purificação do leite em escala industrial.
No entanto, o volume de produção de 25 vacas será suficiente para atender toda a demanda por insulina humana que hoje a Argentina precisa importar.
Segundo o laboratório, o país tem 1,5 milhão de diabéticos, dos quais 300.000 são insulino-dependentes.
Cerca de 200 milhões de pessoas sofrem de diabetes no mundo, mas este número dobrará nos próximos 15 anos, com um mercado global de insulina que movimenta 5 bilhões de dólares.
Estima-se que em um prazo de três anos será obtido o primeiro macho transgênico com o gene da insulina, o que permitirá a expansão da espécie, informou à AFP Carlos Melo, gerente de Projetos Especiais do laboratório.
No mesmo período, serão realizados testes de segurança exaustivos para cumprir os requisitos regulatórios indispensáveis para a aprovação do produto.
À espera de seu crescimento e amadurecimento, as bezerras estão alojadas sob cuidados extremos no curral farmacêutico que a empresa possui na localidade de Baradero, 140 km ao norte de Buenos Aires.
Os cientistas afirmam que a Argentina oferece o "cenário adequado e seguro" para o desenvolvimento das vacas transgênicas, em vista da vantagem comparativa no campo, com sua experiência e conhecimento adquirido no setor pecuarista.
No ano passado, a União Européia aprovou a produção de insulina com base no leite de cabras transgênicas, mas esta é a primeira vez que se consegue produzir o hormônio a partir de leite de vaca.
A empresa de biotecnologia é a mesma que apresentou, em 2002, a 'Pampa', primeira bezerra nascida por clonagem de células somáticas fetais na América Latina, feito com o qual a Argentina se tornou um dos nove países capazes de clonar bovinos no mundo.
Em outubro de 2003, a 'Pampa Mansa', uma destas bezerras transgênicas, começou a produzir o hormônio do crescimento humano em seu leite e, em janeiro de 2004, nasceram os primeiros bezerros, clones de um clone transgênico, continuou o laboratório.