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25/05/2009 - 19h26

The New York Times: Atenção é um recurso finito como o dinheiro, diz especialista

John Tierney
The New York Times
Imagine que você se livrou do laptop e desligou seu smartphone. Você está além da zona de alcance do YouTube, Facebook, e-mail, mensagens de texto. Você está num lugar onde não há Twitter, sentado no banco de um táxi com um exemplar de "Rapt", um guia de Winifred Gallagher sobre a ciência da atenção.

O tema do livro, escolhido por Gallagher depois de que ela soube ter uma forma particularmente cruel de câncer, é emprestado do psicólogo William James: "Minha experiência é o que eu concordo em estar presente". Você pode levar uma vida miserável ao ficar obsessivo em relação aos problemas. Você pode enlouquecer tentando fazer várias coisas ao mesmo tempo e responder a todos os e-mails instantaneamente.

Viktor Koen/The New York Times
Agora que neurocientistas identificaram o mecanismo sincronizador do cérebro, eles começaram a trabalhar em terapias para fortalecer a atenção das pessoas
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Ou você pode ainda reconhecer a capacidade limitada do seu cérebro para o processamento de informação, acentuar o positivo e alcançar as satisfações daquilo que Gallagher chama de vida focada. Parece maravilhosamente interessante, exceto pelo fato de que, enquanto você está sentado no táxi lendo sobre a ciência do prestar atenção, você se dá conta de que... não está prestando atenção a nenhuma palavra.

A televisão do táxi, impossível de ser desligada, está mostrando um comercial de um rapaz no táxi trabalhando em seu laptop - enquanto ele tagarela sobre como seu novo cartão wireless trouxe tanta produtividade em suas corridas de táxi, você não consegue fazer nada de produtivo durante horas.

Por que você não consegue se concentrar em nada, a não ser no desejo de calar a boca dele? Mesmo se você sair do carro, será que existe algum refúgio realista na Era da Distração?

Apresentei esses questionamentos a Gallagher e a um dos especialistas de seu livro, Robert Desimone, neurocientista do MIT, realizador de experimentos um pouco similares à minha experiência com a TV do táxi. Ele tem monitorado ondas cerebrais de macacos e humanos enquanto eles observam vídeos, em busca de certos padrões.

Quando algo luminoso ou novo aparece, isso tende automaticamente a ganhar a competição pela atenção do cérebro. Porém, esse impulso involuntário pode ser voluntariamente superado através de um processo desenvolvido de cima para baixo, chamado por Desimone de "competição tendenciosa".

Ele e colegas descobriram que neurônios do córtex pré-frontal - o centro de planejamento do cérebro - começam a oscilar simultaneamente e enviar sinais direcionando o córtex visual para prestar atenção em outra coisa.

Essas oscilações, chamadas de ondas gama, são criadas pela atividade alta e baixa dos neurônios, ao mesmo tempo - um feito de coordenação neural similar a fazer estranhos, numa seção de um estádio, começarem a bater palmas coordenadamente e, assim, mandar um sinal capaz de induzir as pessoas do outro lado do estádio a baterem palmas também, acompanhando. Porém, esses sinais podem ter problemas em ultrapassar ambientes barulhentos.

"É preciso muita força do cérebro pré-frontal para forçá-lo a não processar uma entrada tão forte quanto um comercial de televisão", disse Desimone, diretor do McGovern Institute for Brain Research, do MIT. "Se você tenta ler um livro ao mesmo tempo, pode não ter os recursos para focar nas palavras".

Agora que neurocientistas identificaram o mecanismo sincronizador do cérebro, eles começaram a trabalhar em terapias para fortalecer a atenção. Na edição atual da "Nature", pesquisadores do MIT, Penn e Stanford relatam que induziram diretamente ondas gamas em roedores ao fazerem brilhar pulsos de luz de laser através de fibras óticas minúsculas em neurônios geneticamente planejados. Na edição atual da "Neuron", Desimone e colegas relatam progressos no uso dessa técnica "optogenética" em macacos.

Em última análise, disse Desimone, é possível melhorar sua atenção ao usar pulsos de luz para sincronizar diretamente os neurônios, uma forma de terapia direta capaz de ajudar pessoas com esquizofrenia e problemas de déficit de atenção (e que pode ter menos efeitos colaterais que medicamentos). Se for possível fazê-lo com luz de baixa frequência de onda capaz de penetrar o crânio, você poderia simplesmente colocar (e retirar) um aparelho minúsculo, com controle sem fios, parecido com um aparelho de audição.

Num futuro mais próximo, neurocientistas também podem ajudar você a focar observando sua atividade cerebral e fornecendo o biofeedback, enquanto você pratica o fortalecimento de sua concentração. Pesquisadores já observaram níveis mais altos de sincronia no cérebro de pessoas que meditam regularmente.

Gallagher endossa a meditação para melhorar sua concentração, mas ela conta que também existem formas mais simples de se colocar em prática as lições de atenção. Quando ela percebeu o quanto era difícil para o cérebro evitar prestar atenção a sons, especialmente vozes de outras pessoas, ela começou a levar sempre consigo plugs de ouvido. Quando você está preso num metrô ou num táxi barulhento com uma TV que não desliga, diz ela, você tem de construir seu próprio "escudo contra estímulos".

Ela recomenda começar seu dia de trabalho se concentrando na tarefa mais importante por 90 minutos. Nesse momento, seu córtex pré-frontal provavelmente precisará de um descanso, e você pode responder a e-mails, retornar ligações e bebericar um pouco de cafeína (que ajuda na atenção), antes de se concentrar novamente. No entanto, até essa primeira pausa, não se distraia com nada, pois pode levar 20 minutos para que o cérebro realize o equivalente ao "reiniciar", depois de uma interrupção.

"Realizar várias tarefas ao mesmo tempo é um mito", disse Gallagher. "Você não pode fazer duas coisas ao mesmo tempo. O mecanismo da atenção é a seleção: ou é uma coisa ou outra." Ela menciona cálculos de que o cérebro de uma pessoa comum pode processar 173 bilhões de bits de informação no curso de uma vida.

"As pessoas não entendem que a atenção é um recurso finito, como o dinheiro", disse ela. "Você deseja investir seu dinheiro cognitivo em posts infinitos do Twitter, navegando na internet, ou vendo televisão no sofá? Você faz escolhas constantemente, e suas escolhas determinam sua experiência, exatamente como disse William James".

Durante seu tratamento contra o câncer, vários anos atrás, disse Gallagher, ela conseguiu se manter relativamente animada ao ter em mente o mantra de James, assim como uma frase de Milton: "A mente é um lugar próprio, e pode fazer de si mesmo um céu ou um inferno".

"Quando acordava de manhã", contou Gallagher, "eu me perguntava: Será que eu quero ficar aqui parada, prestando atenção às minhas chances de morrer e deixar meus filhos sem mãe? Ou eu quero acordar, lavar o rosto e prestar atenção no meu trabalho, na minha família e nos meus amigos? Céu ou inferno - a escolha é sua".

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