O desejo de variedade sexual, sob a ótica do evolucionismo

Tatiana Pronin
Editora do UOL Ciência e Saúde

A influência de Darwin, 200 anos após seu nascimento, vai além da biologia e da paleontologia. No campo da psicologia, Darwin inspirou o surgimento de uma disciplina chamada "psicologia evolucionista", que estuda o comportamento humano e os males que afligem a humanidade à luz da teoria da evolução.

A psicologia evolucionista pressupõe que muitas das psicopatologias existentes - como o ciúme, a depressão pós-parto e a obesidade, entre outras, sejam causadas pelo "desencaixe" das características selecionadas para um ambiente ancestral à nossa atual realidade, como explica Rafael Vera Cruz de Carvalho, pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

Entre os tópicos que vem sendo estudados por psicólogos evolucionistas está a questão da infidelidade. Partindo da análise do modo de vida dos nossos ancestrais pré-históricos, os pesquisadores concluem que a tendência masculina de buscar relacionamentos de curto prazo é uma estratégia que aumentaria as chances de um homem perpetuar seus genes.

Já as mulheres, de um modo geral, buscam parceiros que as ajudem na árdua batalha que é carregar um bebê por nove meses, amamentá-lo e criá-lo até que tenha alguma independência. "Homens e mulheres podem adotar ambas as estratégias reprodutivas, mas para o homem é mais vantajosa (sem qualquer juízo de valor) a de curto prazo", diz o psicólogo.

Essas conclusões podem deixar muita gente de cabelo em pé, mas Carvalho esclarece que a psicologia evolucionista não tem o objetivo de justificar nenhum comportamento humano. Como diz a professora Maria Emília Yamamoto, titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e uma das maiores especialistas do país, "nem sempre a psicologia evolucionista nos permite ver como melhores, mas nos permite refletir sobre o que temos de pior para melhorarmos".