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19/11/2008 - 20h58

Depressão pode ser diagnosticada com exame de sangue, sugere estudo italiano

Por Cristina Almeida
Especial para o UOL Ciência e Saúde
Um estudo realizado na Itália e coordenado pelo médico Massimo Cocchi, professor da Universidade de Bolonha e presidente da ARNA (Associação italiana de Pesquisadores em Nutrição e Alimentos) sugere que é possível diagnosticar a depressão a partir de um exame de sangue simples e barato.

Cocchi relata que a análise clínica é feita a partir das plaquetas, consideradas "embaixadoras" dos neurônios: os lipídios presentes nessa parte do sangue espelhariam o que existe nas células cerebrais, indicando a presença da depressão.

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Segundo pesquisador italiano, a depressão poderia ser detectada no sangue
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"A comunicação entre as células é gerenciada por neurotransmissores; a recepção das mensagens ocorre através das membranas celulares, que estão ligadas à estabilidade do humor. Se as células perdem uma das suas principais características, a fluidez, esse equilíbrio se desfaz e podemos ser levados aos altos e baixos emocionais ou à síndrome depressiva", diz o médico.

As investigações do italiano revelaram que o ácido graxo envolvido nessa estabilidade é o araquidônico (AA), ácido graxo essencial, da família do Ômega 6. Dependendo dos seus diferentes níveis, é possível estabelecer se um indivíduo é são ou se está deprimido. "O excesso de AA é um fortíssimo indício do estado depressivo do paciente, podendo indicar até a possibilidade de suicídio", alerta.

Ele acrescenta que a descoberta esclarece a relação existente entre depressão e doenças cardiovasculares (arteriosclerose, infarto ou cardiopatias), pois o AA favorece os processos inflamatórios que desencadeam essas enfermidades.

Metodologia

Cocchi conta que o estudo preliminar contou com 300 pessoas, das quais 100 tinham o diagnóstico de depressão. O grupo para comparação era composto por cinqüenta jovens esportistas, além de outros voluntários com patologias dermatológicas. O ácido graxo foi encontrado em nível mais alto entre as pessoas com depressão.

Além disso, por meio de um software que simulava a auto-organização do córtex cerebral sensorial, ele fez uma relação entre os níveis dos ácidos graxos com o estado depressivo, indicando os riscos de desenvolvimento da doença.

A surpresa foi identificar entre os jovens esportistas 26,7% de alto risco de depressão, confirmando os estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre o assunto (mais de 20% dos jovens sofrem com doenças de natureza psicológica, e o suicídio está em terceiro lugar no ranking das causas de mortes nesse grupo em muitos países).

Na Itália, um milhão e meio de pessoas sofrem com a depressão, enquanto são mais de cinco milhões os que tiveram um evento da doença ao longo da vida. Entre as crianças, seis em cada 1.000 são afetadas. Para Cocchi, sua descoberta tem importância porque servirá como instrumento de prevenção, especialmente entre idosos, mulheres (grávidas) e adolescentes.

O trabalho será oficialmente apresentado ao Ministério da Saúde italiano no próximo mês de dezembro, mas já conta com o apoio do Nobel de Química Kary Mullis, que foi à Itália a convite de Cocchi para avaliação bioquímica da descoberta. Mullis declarou que a pesquisa é revolucionária: "Basta pensar que com essa metodologia será possível saber se um paciente tem intenção de suicidar-se. Trata-se de uma revolução do ponto de vista filosófico, médico e religioso".

Dieta preventiva

Por ser também especialista em dietologia e alimentos, Cocchi sugere uma dieta preventiva para a depressão. Ela deve ser do tipo mediterrânea, rica em antioxidantes: frutas, verduras, ácidos graxos polinsaturados ômega 3, presentes nos peixes, além de chocolate, café e vinho tinto. Além disso, ele recomenda uma redução do consumo de carne vermelha, que é rica em AA. A vitamina E (presente no azeite de oliva) é outro componente fundamental, protegendo células ameaçadas pelo AA, segundo ele.

Opinião de psiquiatra

Consultada sobre o novo estudo, a psiquiatra Alexandrina Meleiro, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, diz que a pesquisa italiana faz lembrar uma tese dos anos 1980 relacionada ao ácido 5-hidroxiindolacético (5-HIAA). Avaliados vários cérebros de suicidas, todos eles apresentavam alterações dessa substância.

"A investigação foi devidamente confirmada e, naquela época, achávamos que essa seria a causa da depressão", explica Meleiros. "Mas, com o passar dos anos, concluímos que esse ácido, na realidade, estava relacionado ao impulso da agressividade, pois os cérebros dos homicidas também foram estudados e apresentaram o mesmo tipo de alteração", declara.

Conforme a especialista, essa premissa não invalida os trabalhos realizados na Itália e pode ser mesmo que suas conclusões estejam corretas: "Embora seja uma primeira pesquisa que ainda deverá ser repetida em outros países e, por isso, não podemos afirmar que seja definitiva, é certo que ela não pode ser desprezada", conclui.

"Eu nunca pediria um exame relacionado com o AA. Mas o bom profissional deve sempre solicitar exames laboratoriais nos casos de depressão. Se o estudo for confirmado, teremos mais um exame importante à disposição."

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