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29/10/2008 - 12h23

Crise econômica pode afetar negociações sobre efeito estufa, avalia Inpe

Piero Locatelli
Em Brasília
Se a crise financeira se estender até o ano que vem, ela irá afetar as negociações sobre a emissão de gases do efeito estufa na conferência que a ONU fará em 2009 para debater o assunto em Copenhague, a COP 15. A avaliação foi feita por Carlos Nobre, pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), durante apresentação de dados sobre mudanças climáticas no Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em Brasília.

"Se a crise estiver muito ativa durante o próximo ano, ela vai causar uma falsa sensação de tranqüilidade. Se houver uma recessão, o consumo de petróleo, carvão e energia diminui. A taxa de crescimento diminui. Isso vai dar uma falsa sensação que se pode postergar as medidas mais drásticas", afirma.

Antes mesmo de conseguir concluir o Plano Nacional de Mudança Climática, o governo federal já prevê a montagem de outro documento, oito meses após o término do primeiro.

O texto atual, em fase de consulta pública, foi tachado de frouxo por ambientalistas. A principal crítica é o fato de ele não apresentar metas de redução de emissões de gases-estufa - ou, em alguns casos, não determinar o prazo em que deverá ser cumprido o objetivo. Leia mais
DADOS DEFASADOS
HUMANOS USAM 1,3 PLANETA
A urgência da redução nas emissões foi enfatizada por Martin Parry, cientista inglês membro do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). Segundo ele, se a produção de gases causadores do efeito estufa não começar a diminuir até 2015, poderão haver danos irreversíveis.

Com o início da redução nas emissões daqui a sete anos, seria possível cumprir a meta de reduzir as emissões pela metade até 2050. Do contrário, a temperatura do planeta subirá dois graus até a metade do século, o que causaria, por exemplo, o desaparecimento de um quarto das espécies de árvores do cerrado.

Parry também fez um diagnóstico pessimista para as negociações caso a crise persista. "Os lideres políticos terão outras prioridades. Em tempos de recessão, o meio ambiente sofre", comentou. Para ele, para haver mudança é preciso uma forte mobilização política. "O tempo é mais curto do que os políticos acham que é. Eu não acho que eles percebem o quão graves as coisas são."

Para ele, a solução seria buscar uma ação que seja viável economicamente tanto no "boom" quanto na recessão, pois só dessa forma ela funcionaria no longo prazo.

Amazônia

Martin afimrou, ainda, que o Brasil é essencial nas negociações, pois tem mais facilidade para reduzir as emissões do que países emergentes, como Índia e China, para os quais a diminuição teria maior impacto na economia.

Segundo Nobre, o desmatamento na Amazônia é responsável por 55% das emissões do país, o que representa apenas um por cento do PIB brasileiro. "A redução do desmatamento não tem impacto sobre a economia brasileira. Não há nenhuma justificativa econômica para expandir a fronteira agrícola" garantiu Nobre.

Agricultura e pecuária, que representam uma fatia maior do PIB, respondem por um quarto das emissões. Dezessete por cento das emissões brasileiras vêm do gasto de energia e da queima de combustíveis como o petróleo.

Dengue

De acordo com Nobre, a elevação das temperaturas causada pelo aquecimento global pode levar o Aedes aegypti, mosquito da dengue, para regiões onde ainda não há infestação. Até agora, são raros os casos na Região Sul, pois o mosquito só costuma viver em regiões quentes. Mas, com o aquecimento global, é esperado que a espécie se espalhe por todo o país e talvez chegue até o Uruguai.

Ele também falou que o aquecimento já vem provocando mudanças na agricultura e outras estão por vir. "Em 50 anos, por exemplo, estaremos importando café da Argentina e Santa Catarina não vai mais produzir maçã".

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