24/10/2008 - 16h49
Tomar remédio recém-lançado não é ser usado como cobaia, esclarece médico
Tatiana Pronin
UOL Ciência e Saúde
Dois remédios entraram na mira das agências reguladoras de medicamentos esta semana. Além do Acomplia (rimonabanto), que teve a venda suspensa em todo o mundo, o FDA, nos Estados Unidos, fez um alerta sobre os efeitos da vareniclina (vendido no Brasil como Champix).
Foram registrados mais de mil problemas de saúde e lesões no primeiro trimestre deste ano em doentes que tomavam o medicamento, incluindo 50 mortes. A Pfizer, fabricante do medicamento, afirma que não é possível estabelecer relação de causalidade entre os relatos e o uso do produto.
Em comum, Champix e Acomplia têm a ação sobre os mecanismos cerebrais ligados à compulsão. Tanto o vício pelo cigarro quanto a dificuldade de dominar o apetite estão ligados ao sistema de recompensa do cérebro, regido por neurotransmissores, substâncias que promovem a comunicação entre os neurônios.
Alterar esse processo, é claro, pode trazer conseqüências, a maioria delas detectadas durante os anos em que a substância foi pesquisada em animais, pessoas saudáveis e, depois, em pessoas com a doença que se quer tratar. Ao entrar no mercado e ser consumido por milhares de pessoas, de diferentes partes do mundo e com diferentes perfis, certos efeitos colaterais desconhecidos podem aparecer, ou mostram-se mais freqüentes do que se esperava.
Quer dizer que, ao experimentar um novo tratamento, anunciado como promissor, pacientes estão sendo usados como cobaia? O toxicologista e médico da disciplina de clínica médica da Universidade de São Paulo Sérgio Graff esclarece que não é bem assim. "Os testes clínicos envolvem pacientes que não possuem outro problema de saúde senão aquele que se pretende combater. Além disso, todos eles são monitorados semanalmente", explica.
Graff lembra que todo tratamento tem como pilar a avaliação de risco e benefício. "Às vezes, o paciente está com uma obstrução coronariana grave e você, como médico, sabe que ele pode morrer se continuar fumando", diz, mencionando um caso em que os benefícios de uma nova droga contra o tabagismo podem superar os riscos.
"O mais importante é que os medicamentos sejam utilizados não apenas com prescrição, mas também com supervisão médica", ressalta.