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15/09/2008 - 12h51

NYT: Células tronco podem ser usadas para produzir células vermelhas para transfusões

Por Andrew Pollack
The New York Times
Quando as pessoas imaginam o uso de células-tronco para "medicina regenerativa", elas geralmente imaginam usar neurônios para tratar o mal de Parkinson, células do coração para reparar danos causados por ataques cardíacos, ou células pancreáticas para substituir aquelas destruídas pela diabetes.

Mas alguns cientistas afirmam que um uso terapêutico dessas células pode ser mais prosaico: produzir células vermelhas para transfusões. Essas células sangüíneas, talvez feitas em grandes barris, podem um dia complementar as doações de sangue, que geralmente são escassas. E o sangue pode ser livre das doenças infecciosas que podem ser encontradas em doadores.

As forças armadas estão especialmente interessadas nisso porque pode ser bastante difícil encontrar e armazenar células vermelhas para uso em campos de batalha. A Darpa (Agência de Projetos Avançados de Pesquisa de Defesa) está começando um programa de "farmacologia do sangue" com o objetivo de desenvolver um sistema que possa produzir células vermelhas a partir de células progenitoras em campos de batalha.

Produzir células vermelhas é "uma das coisas mais fáceis a se fazer a partir de células-tronco embrionárias", disse Eric E. Bouhassira, professor de biologia celular e hematologia da Albert Einstein College of Medicine, que está realizando pesquisas na área.

O motivo, ele disse, é que para tratar o mal de Parkinson, ataques cardíacos ou diabetes, os cientistas terão que descobrir não só como produzir as células propriamente ditas, mas fazê-las funcionar no corpo. Mas uma vez que cientistas tenham aprendido como produzir células vermelhas - ou plaquetas, as células que trabalham para o coágulo sangüíneo - já saberão como usá-las. Além disso, combinar tipos sangüíneos é mais fácil do que combinar outros tipos de tecidos para evitar rejeição após um transplante.

Ainda assim, essas vantagens são compensadas pelo volume enorme de células exigidas para transfusões, muito mais do que a quantidade necessária para tratar o mal de Parkinson e outras doenças.

É por isso que um artigo publicado online no jornal "Blood", em agosto, chamou tanta atenção. Cientistas do Advanced Cell Technology relataram haver produzido de 10 a 100 bilhões de células vermelhas a partir de uma placa de células-tronco embrionárias.

"É a primeira vez, que eu saiba, que alguém conseguiu produzir essas células em escala suficiente para se falar em usá-las para processos de transfusão", disse um co-autor do artigo, Dr. George Honig, professor emérito e pediatra hematologista da Universidade de Illinois em Chigago.

Mas até mesmo essa quantidade é menor do que a necessária para uma transfusão. Uma unidade de sangue, com 473 mL, contém mais de 1 trilhão de células, disse Dr. Dan S. Kaufman, professor associado da Universidade de Minnesota.

A Advanced Cell Technology, que está empreendendo esforços para levantar recursos para se manter no negócio, não é a única empresa que busca células sangüíneas.

James A. Thomson, da Universidade de Wiscosin, primeira pessoa a obter células-tronco embrionárias de humanos, foi fundador da Stem Cell Products, uma empresa formada para buscar produtos sanguíneos a partir de células-tronco. A companhia foi adquirida por outra, que ele ajudou a fundar, a Cellular Dynamics, que está trabalhando para produzir células usadas em pesquisas farmacêuticas.

A idéia enfrenta outros desafios além do grande volume de células necessárias. As células vermelhas produzidas a partir de células-tronco até o momento tendem a se parecer com células vermelhas embrionárias ou fetais mais do que com células de adultos. Elas tendem a ser maiores e geralmente contêm núcleo, o que poderia impedir sua passagem através do corpo. E elas têm uma forma diferente de moléculas globinas, que transportam o oxigênio.

Ainda não se sabe quão bem essas células poderiam funcionar no corpo. As células vermelhas produzidas pela Advanced Cell Technology transportaram tanto oxigênio quanto células vermelhas adultas em testes de laboratório. Mas ainda não foram testadas em animais ou pessoas.

"Os verdadeiros testes são aqueles feitos em seres vivos", disse Dr. Thalia Papayannopoulou, professora de medicina da Universidade de Washington, acrescentando que as células produzidas podem não viver tanto tempo no corpo como células vermelhas doadas devido a diferenças nas membranas.

A segurança é outra questão. Substitutos de sangue feitos de outras formas já causaram danos a pacientes em algumas circunstâncias.

Finalmente, há a questão do custo. "As pessoas doam de graça, e esse é um valor difícil de competir", disse Nick Seay, diretor de tecnologia da Cellular Dynamics. Mesmo depois de o sangue ser processado, os hospitais podem comprar uma unidade por cerca de US$ 200.

Mas com os fatores de crescimento dispendiosos necessários para desenvolver células vermelhas a partir de células embrionárias, os custos seriam de milhares de dólares por unidade, disse Dr. Michael P. Busch, diretor do instituto de pesquisa Blood Systems, um grande centro de sangue sem fins lucrativos.

Células vermelhas podem, de forma possível, ser umas das primeiras terapias derivadas das tão faladas células-tronco pluripotentes induzidas, que são feitas a partir de células da pele de adultos. Essas células estão se tornando muito populares para pesquisa porque evitam a destruição eticamente controversa de embriões, necessária para criar células-tronco embrionárias.

Mas uma barreira maior para o uso de células induzidas para terapia é que elas são criadas adicionando genes às células da pele usando um vírus. Um dos genes que foi usado pode causar câncer, assim como o uso do vírus. Mas as células vermelhas produzidas dessa forma teoricamente não trariam o risco do câncer porque as células não têm núcleo, disse Kaufman.

Outras células, como aquelas da medula óssea ou do sangue do cordão umbilical, também podem ser usadas para produzir células vermelhas. Mas essas células não podem se reproduzir indefinidamente em culturas como as células-tronco embrionárias. Pesquisadores como Cornelis Murre, da Universidade da Califórnia, em San Diego, estão trabalhando para solucionar isso.

Os contratos iniciais da "farmacologia sangüínea" do DARPA não irão envolver células-tronco embrionárias humanas, disse Seay da Cellular Dynamics. De acordo com a política do governo Bush, o dinheiro federal pode ser gasto com pesquisas somente em um número pequeno de linhas de células-tronco embrionárias aprovadas. Nenhuma dessas linhas é do tipo sangüíneo O negativo, o doador universal que a DARPA deseja.

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