Médico italiano propõe dieta para reduzir os danos causados pela nicotina

Cristina Almeida
Especial para o UOL Ciência e Saúde

Ivo Pulcini era um entre tantos médicos fumantes. Tocado com o que via nos pulmões dos camponeses italianos, cujos danos eram comparáveis aos fumantes das grandes cidades, convenceu-se de que deveria ser coerente com sua escolha profissional: para ele, era chegada a hora de parar de fumar.

Passados trinta anos desde que se estabeleceu em Roma, onde fundou o primeiro centro antitabagismo da cidade, o Sanitars, o cardiogista e especialista em ciência da alimentação e medicina esportiva enfatiza os riscos da nicotina, potente veneno que, em doses concentradas, é capaz de matar um homem de 70 quilos.

Pulcini explica que o consumo pausado e continuado do fumo acarreta mudanças importantes no sistema do corpo humano. A conseqüência imediata é o desequilíbrio de importantes funções orgânicas. Em primeiro lugar, há o aumento da freqüência cardíaca e da pressão arterial, a contração das veias, a redução da visão e a desidratação da pele. Depois vêm as dores nas costas - problemas na coluna ou hérnias de disco são queixas comuns entre fumantes. Sem contar o câncer, provocado principalmente pelo alcatrão.

Atento a esses sintomas, o médico italiano idealizou uma dieta especial que ajuda a limitar os danos causados pelo fumo. Trata-se de uma espécie de filtro biológico utilizado como primeiro passo em direção à grande decisão de parar com os cigarros. Enquanto não se decide, o fumante poderia adotar essa dieta para melhorar seu desempenho físico.

A principal inimiga a ser combatida é a excessiva produção de radicais livres. Para isso, ele indica o consumo de vitamina C, E, betacaroteno e selênio. Frutas cítricas, kiwi e papaia, além de verduras (brócolis, couve, espinafre, tomate) e cereais integrais, para potencializar as defesas do organismo, estão na lista dos itens a serem consumidos.

Pulcini sugere que a dieta básica seja abundante em alimentos alcalinizantes, como verduras, frutas, batatas, amêndoas e nozes. Já os elementos acidificantes, como açúcar, levedo, carne bovina, queijos fermentados e café, devem ser reduzidos drasticamente.

O especialista esclarece que a nicotina é hidrossolúvel e, portanto, "a água é um componente indispensável e deve ser consumida em grande quantidade. Ao menos dois litros por dia e, se possível, do tipo leve, com pH superior a sete".

Chás naturais auxiliam a desintoxicação do fígado (dente-de-leão, alcachofra, erva-doce e camomila) e estimulam a atividade renal (bétula), por isso também são recomendados. "Isso facilita a drenagem da nicotina através dos órgãos depurativos", diz.

Fumantes maduros

Fumantes mais maduros também podem se beneficiar da dieta; seus sistemas de defesa anti-radicais sofreram certa diminuição e, por isso, é necessário dar maior atenção aos alimentos antioxidantes. Com a ajuda de um especialista, o médico aconselha também que se recorra a suplementos alimentares.

Os resultados são rápidos e aparecem após duas semanas, ele garante. Pacientes que adotam a dieta recebem uma carga positiva sobre o metabolismo energético (físico e mental), especialmente por causa das vitaminas do grupo B e C, que melhoram a disposição e diminuem eventuais edemas, causados pela retenção de líquidos.

Cigarros de plástico

Pulcini ressalta mais uma providência: o exercício físico é importante, bastando "trinta minutos por dia de caminhadas contínuas, com passos rápidos, ou o mesmo tempo na academia, com carga de intensidade adequada a cada faixa etária". Isso porque a endorfina, liberada com a atividade física, é muito útil para diminuir o estresse que a ausência de nicotina pode causar.

"Para quem, no final, deseja parar de fumar, além da mudança nutricional, indico o uso de cigarros de plástico para que o paciente se desligue gradualmente do componente gestual, muito freqüente entre os fumantes de mais de um maço por dia", observa o cardiologista.