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21/04/2008 - 16h29

Armadilha caseira pode indicar presença do Aedes aegypti nas redondezas

Da Redação

Philip Glass/Divulgação

Materiais: garrafa pet, microtule, alpiste ou ração de gato, tesoura, lixa e fita isolante

Materiais: garrafa pet, microtule, alpiste ou ração de gato, tesoura, lixa e fita isolante

Uma armadilha feita com materiais simples, como uma garrafa pet e um tecido semelhante ao usado nos véus de noiva é a aposta do o microbiologista Maulori Cabral, do Departamento de Virologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) na educação para o combate à dengue.

A "mosquitérica", como foi apelidada por seu criador, tem como principal objetivo detectar se há mosquitos da espécie Aedes aegypti circulando nas redondezas de onde ela é instalada.

Cabral adaptou a idéia dos pesquisadores Antônio Gonçalves Pereira e Hermano César Jambo, ambos também da UFRJ, que criaram e patentearam a Mosquitoeira, armadilha de produção industrial.

A proposta de uma "mosquitoeira genérica" (daí o nome mosquitérica) surgiu da necessidade de levar à população uma alternativa de armadilha barata e fácil de fazer em casa.

A armadilha proposta por Cabral (confira como confeccionar a sua) consiste em uma garrafa plástica com água onde as fêmeas do mosquito da dengue podem colocar seus ovos. Quando os ovos eclodem, as pequenas larvas descem ao fundo do recipiente, onde há alimento, mas, ao crescerem e transformarem-se em mosquitos, não conseguem sair de lá, uma vez que a passagem está obstruída com o microtule (tecido semelhante ao véu da noiva, só que com a trama mais fechada, de no máximo 1 milímetro de diâmetro).

As fêmeas são atraídas à armadilha devido à evaporação da água (potencializada ao se lixar o recipiente) e à presença de alimento (micróbios que se alimentam das sementes trituradas adicionados à água). Ela deve ser colocada em locais sombreados, mas de fácil acesso, para possibilitar a reposição da água e sua supervisão constante.

Cabral salienta que a utilização da armadilha não substitui o combate aos criadouros do mosquito. "Muito pelo contrário, a pessoa só tem o direito de instalar em sua casa a mosquitérica se antes tiver eliminado todos os criadouros", explica o pesquisador.

"A mosquitérica é um instrumento educacional", avalia ele. Sua utilização tem também um caráter motivacional, na medida em que a pessoa pode fiscalizar se o combate ao mosquito está sendo efetivo e acompanhar o processo de desenvolvimento do Aedes aegypti.

"Quem constrói sua mosquitérica tem um compromisso de cidadania. É necessário fazer um acompanhamento diário da armadilha", explica Cabral. Por meio desse acompanhamento, pode-se detectar se existem espécimes do mosquito da dengue circulando pela região e intensificar as medidas de combate.

Como as larvas do Aedes aegypti fogem da luz, basta usar uma lanterna para descobrir se as larvas que se desenvolvem na armadilha são da espécie. Caso a suspeita se confirme, deve-se chamar a vigilância epidemiológica. "Dessa forma, os agentes não saem aleatoriamente em busca de focos do mosquito", explica Cabral.

Para descartar as larvas presentes na armadilha, basta adicionar cloro, água sanitária ou sabão e esperar que elas morram, jogando o conteúdo no vaso sanitário. Já no caso de mosquitos adultos, deve-se agitar o líquido, de forma a afogar os espécimes, e depois tirar a tampa e derramar o conteúdo sobre a terra.

Inventor da "mosquitérica" ensina receita
Segundo Cabral, a mosquitérica vem sendo utilizada desde o primeiro semestre de 2007 em municípios como Macaé e Saquarema. Neste mês de abril, um projeto piloto está sendo realizado na Ilha de Paquetá. A intenção é que, com a eliminação dos criadouros e a utilização da armadilha, a ilha fique livre do mosquito em um mês.

Agora, o pesquisador propõe que as fábricas já incluam nas garrafas pet, ou em seus rótulos, marcações referentes ao local em que elas devem ser cortadas e ao nível ideal de água. Ele também faz um apelo para que os comerciantes disponibilizem o microtule em todos os municípios brasileiros.

Críticas

A armadilha desenvolvida na UFRJ não é um consenso entre os pesquisadores da área e tem sido alvo de algumas críticas. Para o entomologista Álvaro Eduardo Eiras da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), ainda não há comprovação científica da eficácia da utilização da mosquitérica no combate à dengue.

Desde o começo da semana passada, pesquisadores da UFMG, entre eles Eiras, estão testando em laboratório a armadilha criada por Cabral para avaliar algumas de suas características. A intenção é determinar, entre outras coisas, qual a durabilidade do microtule e se ele é mesmo capaz de bloquear a saída do mosquito adulto, bem como quantos ovos a armadilha consegue armazenar.

"Nossa grande preocupação é que a armadilha, ao invés de ajudar no combate, possa agravar ainda mais o problema", explica Eiras. Para ele, a armadilha pode transformar-se em um criadouro do mosquito Aedes aegypti se for mal feita ou não tiver supervisão constante, por exemplo.

Por outro lado, o pesquisador acredita que um ponto positivo da mosquitérica é que ela permite saber se há mosquitos da dengue circulando na região. Contudo, ele ressalta que existem outras armadilhas mais eficientes sendo criadas e aperfeiçoadas. Características como cor preta, que atrai o mosquito, e captura da fêmea no momento da postura dos ovos são apontadas como constantes de alguns dos projetos.

Ionizete Garcia da Silva, professor e pesquisador de parasitologia da UFG (Universidade Federal de Goiás) acredita que a armadilha não é a solução, mas pode ser uma ferramenta a mais no combate ao mosquito da dengue. Ele enfatiza, entretanto, que é importante ter cautela. "Só com o tempo vamos poder dizer com certeza se ela é ou não uma boa estratégia", diz.

Na avaliação de Eiras, a mosquitérica não deve ser usada pela população enquanto não houver comprovação de sua eficácia. Já Cabral acredita que sua armadilha é sim eficaz, mas recomenda que quem estiver em dúvida, ou não se sentir habilitado, não faça a sua.

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