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10/04/2008 - 12h43

Em 90% dos casos, o Aedes aegypti procria em ambiente doméstico

Da Redação
Os especialistas são unânimes: a dengue só será controlada no Brasil quando a população passar efetivamente a combater os criadouros do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença. Ações coadjuvantes, que impeçam que o mosquito pique e infecte mais pessoas, também são necessárias.

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Os governos têm papel fundamental, de formulação e implementação de políticas públicas voltadas para a garantia de acesso ao saneamento básico (água tratada, esgoto e coleta de resíduos sólidos).

O fornecimento regular de água tratada evita o armazenamento do líquido em baldes e galões e a coleta de lixo elimina objetos que poderiam represar água, como garrafas e pneus, excelentes criadouros para o mosquito da dengue.

Além disso, o poder público é responsável por campanhas educativas permanentes e pela inspeção domiciliar para controle da reprodução do mosquito. Mas a população também precisa engajar-se no combate à dengue.

"Em mais de 90% dos casos, o Aedes aegypti procria em ambiente doméstico", lembra Gustavo Johanson, infectologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Por isso, cada cidadão precisa colaborar, zelando pela eliminação dos criadouros em sua casa e permitindo a entrada dos agentes da vigilância epidemiológica.

Johanson enfatiza que programas de combate ao mosquito adulto são apenas medidas paliativas. "O mais efetivo é controlar o mosquito na fase larval", diz. Essa fase acontece na água, por isso a importância da eliminação de focos de água parada.

"Cada casa tem os seus próprios criadouros, porque cada família tem hábitos e necessidades únicas", avalia Hermione Elly Melara de Campos Bicudo, professora e pesquisadora de genética e evolução de insetos da Unesp (Universidade Estadual Paulista).

Segundo ela, larvas do mosquito da dengue são encontradas freqüentemente em caixas d'água, barris, tambores, potes, latas, garrafas, pneus, pratinhos de vasos e plantas que armazenam água, como as bromélias. Também são criadouros potenciais calhas entupidas, lajes, vasos sanitários pouco utilizados e todo tipo de recipiente e objeto que pode armazenar água, especialmente da chuva.

Até mesmo pequenas quantidades de água são suficientes para o desenvolvimento da larva do mosquito da dengue. Por isso, é necessário atenção também aos pequenos criadouros, como tampinhas de garrafa, cascas de ovos e pedaços de plástico formando concavidades, por exemplo.

Com a eliminação dos criadouros preferenciais, o Aedes aegypti começa a colocar seus ovos em locais menos usuais, como o trilho da porta do box no banheiro e os buracos utilizados para fixar escadas e redes de piscina. Bicudo relata que já foram encontradas larvas até mesmo no reservatório de água de ferro de passar roupa a vapor.

De acordo com Ionizete Garcia da Silva, professor e pesquisador de parasitologia da UFG (Universidade Federal de Goiás), já foram registrados criadouros em águas sujas, com sabão, turvas e lodacentas. "Por isso, é imprescindível eliminar coleções de água de qualquer tipo", pontua.

Os ovos do mosquito são colocados preferencialmente em recipientes escuros, que dificultam sua visualização. Além disso, aderem à superfície interna do recipiente e são muito resistentes, podendo sobreviver a mais de um ano sem água. Sendo assim, não basta escoar a água parada, é necessário lavar semanalmente, com sabão e escova, todos os recipientes.

Outras medidas apontadas por Silva e Bicudo são manter todos os objetos em áreas cobertas, tampados e bem vedados. Reservatórios de água que precisam ficar abertos podem receber uma tela fina, que não permite a entrada e saída do mosquito. Os pratinhos das plantas devem ser preferencialmente eliminados ou então preenchidos com areia.

Também é importante desentupir calhas e escoar a água acumulada sobre as lajes. "Todo lixo deve ser jogado fora", enfatiza Bicudo. Silva aposta na reciclagem como destino dos objetos velhos e sem utilidade, como latas e pneus.

Bicudo também faz questão de frisar que os possíveis criadouros precisam estar sob vigilância constante. "Quando são registrados menos casos de dengue, as pessoas pensam que estão dispensadas de agir, o que é um erro", comenta.

Larvicidas e inseticidas são eficientes, mas não tem ação prolongada, podem causar danos à saúde humana e não substituem a eliminação dos criadouros. Outras estratégias coadjuvantes podem ser adotadas, como regar as plantas duas vezes por semana com uma solução de uma colher de água sanitária para cada litro de água.

A equipe de Hermione Bicudo realizou pesquisas que indicam que a cafeína presente na borra de café bloqueia o desenvolvimento das larvas do Aedes aegypti. Segundo ela, quatro colheres de sopa de borra diluídas em um copo de água podem matar as larvas. Contudo, a mistura precisa ser trocada semanalmente e ainda não há consenso dos pesquisadores sobre sua eficiência.

Evitando as picadas

Ionizete da Silva enfatiza que nenhuma medida isolada é capaz de conter o avanço da dengue. Para ele, é preciso associar o combate aos criadouros à prevenção da picada do mosquito. "É necessário impedir o contato do mosquito com o ser humano. Com a diminuição da oferta de sangue, podemos reduzir o número de mosquitos", explica.

Entre as principais sugestões para evitar a picada do Aedes aegypti estão a utilização de roupas compridas, cobrindo os membros inferiores (mais visados pelos mosquitos), e claras, que os atraem menos, além de calçados de cano longo.

Mosquiteiros podem ser usados sobre as camas, mas vale ressaltar que o Aedes tem hábitos diurnos e costuma picar no começo da manhã e no fim da tarde. A telagem de portas e janelas também é recomendada para evitar a entrada de mosquitos na casa. O ar condicionado é um aliado, já que o ambiente permanece frio e seco, hostil ao mosquito.

Velas de citronela e de andiroba podem ser usadas como repelentes naturais para o ambiente, mas tem alcance restrito. Outra medida paliativa é a utilização de repelentes corporais. Mas a prática requer alguns cuidados. "O uso abusivo de repelente é prejudicial à saúde. Sua utilização prolongado pode levar à intoxicação", explica Andrea D'Ávila Freitas, infectologista da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

Segundo Johanson, repelentes com DEET (dietiltoluamida) são os mais indicados. "Devem ser usados nas partes do corpo que ficam expostas e em locais com maior concentração de mosquitos", recomenda. Segundo a Anvisa, crianças com menos de dois anos não devem usar o produto. Já para a Academia Americana de Pediatria e diversos especialiatas brasileiros, entre eles Johanson, o produto não tem contra-indicação para menores de dois meses. É sempre bom consultar um médico para avaliar o risco/benefício da sua utilização.

A UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense) está desenvolvendo um sabonete repelente com ação de seis horas e baixo custo para a população. Segundo Edmilson José Maria, químico e coordenador da pesquisa, o produto está em fase de testes e pode chegar ao mercado ainda este ano.

Vacina

Não há no mercado vacina que garanta proteção contra a dengue. "A maior dificuldade para a obtenção da vacina reside no fato de que ela teria que ser eficiente contra os quatro vírus da dengue existentes", explica Johanson.

A imunização contra apenas um dos vírus poderia aumentar o risco de ocorrência de formas mais graves da dengue, como a hemorrágica, em caso de infecção por um dos demais vírus.

Diversas vacinas estão em desenvolvimento, no Brasil e no exterior. A expectativa é de que se chegue a uma vacina tetravalente nos próximos quatro anos.

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