27/03/2009 - 11h26
Pesquisadores lusos testam tratamento para câncer de boca
Da Lusa
Em Coimbra
Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Coimbra estão estudando um tratamento inovadora para o câncer de boca, a partir da combinação de dois remédios e os resultados tem sido "entusiasmantes", com maior eficácia e menor toxicidade.
A pesquisa, que dura há dois anos, até agora desenvolvida "in vitro", vai prosseguir este ano com a utilização de ratos, para testar a sua eficácia. Se dentro de um ano os dados se confirmarem, avança a avaliação em tecidos humanos colhidos em doentes.
Realizada por Marília Dourado e Ana Bela Ribeiro no Centro de Pesquisa em Meio Ambiente Genética e Oncologia (CIMAGO) da Faculdade de Medicina, utiliza moléculas similares à de dois medicamentos aplicados no tratamento de outros tipos de câncer, "inibidores da tirosina cinase" e "inibidores do proteasoma".
"O câncer da cavidade oral tem sido o parente pobre destas doenças oncológicas", pelo que as pesquisadoras pensaram investigar uma abordagem terapêutica inovadora, face ao fraco investimento na pesquisa farmacológica e ao não surgimento de novas moléculas para o seu tratamento.
Marília Dourado explicou à Agência Lusa que o câncer de boca ocupa o nono lugar entre as doenças oncológicas, com cerca de 405 mil novos casos/ano, sendo o que mais poderá afetar a imagem das pessoas, por se desenvolver em qualquer parte da boca, na língua, lábios, glândulas salivas ou garganta.
Segundo a pesquisadora, apesar disso, a cirurgia "tem conseguido avanços notáveis", ao ponto de poder curar 80% a 90% dos casos se a doença for diagnosticada numa fase muito precoce.
Ao longo das pesquisas, as pesquisadoras concluíram que uma das moléculas não produzia efeitos e que a outra apresentava resultados "muito entusiasmantes", fosse em câncer "in situ" (que não se espalhou) ou já "metastizado" (disseminado).
Associadas no tratamento deste tipo de câncer, "criaram uma sinergia de potenciação, demonstrando ser uma alternativa terapêutica eficaz", com diminuição dos efeitos secundários dos remédios, uma vez que as doses necessárias eram mais baixas.
Estes fármacos poderão impedir a disseminação do câncer ou, se já tiver disseminado, travá-lo, provocando a morte celular por apoptose, e não por efeito tóxico.
"Este projeto não tem como fundamento descobrir novas moléculas, nem colocar um novo medicamento no mercado. O objetivo principal é uma nova abordagem terapêutica utilizando moléculas que já são utilizadas noutras patologias", explicou a pesquisadora, acrescentando que para que possa ser aplicada em doentes há um "longo caminho a percorrer".
Se os resultados alcançados "in vitro" se confirmarem em ratos e, depois, em tecidos de pessoas portadoras de câncer de boca, há ainda necessidade de testar a eficácia da terapêutica em humanos, e isso só poderá desenvolver-se em ambiente internacional, pela dimensão da amostragem exigida.