Um estudo que analisou os fatores de risco de câncer de mama em mulheres jovens conclui que os testes para avaliar esse risco e prevenir a doença devem começar em idades menores do que se costuma fazer atualmente -em torno dos 40 ou 50 anos-, de preferência sem o uso de radiação.
O estudo, elaborado no Canadá e publicado hoje pelo site da revista "The Lancet", recomenda substituir, nas idades mais jovens, as mamografias por imagens de ressonância magnética (IRM).
Especialistas ouvidos pela Folha dizem que o rastreamento do câncer de mama, ou seja, o exame nas mulheres que não têm necessariamente indicação médica, deveria ser feito a partir dos 40 anos, e não aos 50, como diz o Inca (Instituto Nacional de Câncer).
"Vários estudos mostram que muitos tumores agressivos acontecem entre os 40 e os 49 anos", diz Sérgio Simon, do hospital Albert Einstein. "O rastreamento deveria ser feito a partir dessa idade". Essa também é a opinião da SBM (Sociedade Brasileira de Mastologia). Leia mais |
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Segundo ele, essas imagens permitem medir a concentração de água na mama da jovem de forma parecida com os raios X mas sem a radiação ionizante.
De acordo com os autores, sua pesquisa demonstra que a composição do tecido da mama nas mulheres jovens pode estar relacionada com o risco de câncer na meia idade ou mais adiante.
A quantidade de tecido mamário denso, que costuma se calcular com as mamografias e se descreve como densidade mamográfica (DM), varia muito na população feminina, apontam.
É conhecido que, nas mulheres maduras, a densidade do tecido é um fator de risco importante para o desenvolvimento da doença, e que o perigo aumenta proporcionalmente à densidade.
No entanto, os especialistas observam no site da "Lancet", não se sabe muito sobre o desenvolvimento da DM nas mulheres jovens, e como este dado está relacionado à altura, o peso, a idade e a densidade mamográfica de suas mães.
Para sua pesquisa, Norman Boy, do Campbell Family Institute for Breast Câncer Research (Instituto Campbell da Família para Estudos do Câncer de Mama), e Mike Bronskill, do Sunnybrook Health Science Centre (Centro de Ciência da Saúde Sunnybrook), ambos em Toronto (Canadá), acompanharam 400 mulheres de 15 a 39 anos e as mães delas.
Em vez de medir a densidade com mamografias, eles utilizaram IRMs para ver a concentração de água nos seios das jovens.
Além disso, fizeram análises de sangue nos dez primeiros dias de seus ciclos menstruais.
Já as mães, foram submetidas a mamografias e 100 também passaram por scanners.
Os pesquisadores concluíram que, nas mães, a porcentagem de água detectada com as ressonâncias estava fortemente ligada à densidade medida pela mamografia.
A proporção de água nos seios das jovens (45%, em média) era significativamente mais alta que nas mães (28%), e diminuía segundo aumentava sua idade e seu peso, enquanto aumentava conforme a altura.
Os autores apontam que "um alto grau de densidade mamográfica na média idade, quando é um forte fator de risco para o câncer de mama, pode surgir do grupo de população que tem maior quantidade de tecido fibro-glandular na juventude, quando há mais suscetibilidade a cancerígenos potenciais".
Portanto, eles concluem que "as medidas destinadas a prevenir o câncer de mama poderiam ser mais efetivas se começarem na juventude, do que na idade adulta".
Os especialistas também encontraram uma relação entre maior concentração do hormônio do crescimento e maior porcentagem de água nos seios, o que sugere que as mulheres altas poderiam constituir um grupo de maior risco.