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14/12/2007 - 09h41

Brasil não deve manter queda no desmatamento, admite governo

Denize Bacoccina
De Brasília
O diretor de Articulação de Ações na Amazônia do Ministério do Meio Ambiente, André Lima, diz que será difícil manter neste ano o ritmo de queda no desmatamento obtida no ano passado, 20% menor do que no ano anterior.

Se todo o desmatamento das últimas décadas - que já destruiu 17% da Amazônia brasileira - cessasse hoje, ainda assim a floresta continuaria a correr riscos com o aquecimento global, de acordo com cientistas ouvidos pela BBC Brasil.

"Se o resto do mundo não fizer nada
e o Brasil parar totalmente o desmatamento, aquela possibilidade de savanização continua exatamente a mesma", diz o pesquisador Antonio Manzi, gerente-executivo do projeto LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia. Leia mais
SAVANIZAÇÃO
"Manter em 2007/08 a taxa de desmatamento de 2006/07 vai ser muito difícil", afirmou Lima em entrevista à BBC Brasil.

Neste ano, o governo brasileiro comemorou a redução do desmatamento para 11,2 mil quilômetros quadrados, menos da metade do espaço desmatado em 2003/04, de 27,3 mil quilômetros quadrados.

"Temos absoluta convicção de que o que foi feito até agora não vai ser suficiente para manter a queda", disse ele. Nos últimos anos, o governo criou várias áreas de conservação e intensificou a fiscalização a partir das imagens por satélite que mostram o desmatamento com mais rapidez.

As pressões para o desmatamento, segundo o diretor, vem principalmente do aumento da atividade pecuária, que está sendo empurrada para a Amazônia por causa do preço da terra e da qualidade do solo, enquanto a produção de grãos se espalha pelo cerrado.

"Os grandes desafios para conter o desmatamento hoje na Amazônia são a atividade pecuária e o desenvolvimento da economia florestal regional, para uma atividade econômica com a manutenção da floresta em pé".

Ele diz que o aumento do preço e do consumo da carne no mercado internacional estimulam a ampliação da produção e das exportações brasileiras.

Além disso, a pecuária desenvolvida na Amazônia é uma pecuária extensiva, com uso de pastagens naturais que se exaurem em poucos anos e necessitam de novos investimentos para voltar a produzir.

"É mais barato desmatar uma nova área do que recuperar a pastagem degradada", diz o diretor do Ministério do Meio Ambiente.

Normalmente a nova área desmatada fica dentro da própria fazenda que já tinha gado. Com a nova derrubada, além de não ter que gastar com a recuperação do solo o fazendeiro ainda ganha na venda da madeira.

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, de 70% a 80% do desmatamento que ocorre no Brasil é ilegal.

Para incrementar as ações de apoio à economia florestal - atividades para ganhar dinheiro com a manutenção da floresta, como coleta de castanhas e frutos e plantio entre as árvores -, o Ministério destinou para estes programas R$ 500 milhões no orçamento do próximo ano.

O valor é dez vezes maior do que o montante deste ano e praticamente o mesmo orçamento de custeio de todo o Ministério.

Contradições

O biólogo Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon, uma ONG baseada em Belém que estuda a Amazônia, diz que há contradições entre a política de promoção de uma economia florestal sustentável e o desenvolvimento convencional baseado na agropecuária.

Um exemplo, segundo ele, são os investimentos voltados para a pequena agricultura nas áreas de reforma agrária, que implicam em desmatamento, em vez do incentivo ao manejo florestal comunitário.

Ele também observa um aumento do desmatamento no segundo semestre deste ano, segundo dados do Inpe, coincidindo com a elevação nos preços de commodities agrícolas, como soja e carne, os produtos mais envolvidos no uso das terras desmatadas.

Suas observações corroboram com a expectativa do próprio governo de que as notícias sobre o controle do desmatamento no ano que vem não devem ser tão positivas como as de 2007.



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