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31/05/2009 - 06h00

Mais da metade dos ex-fumantes retoma o vício por causa do estresse

Tatiana Pronin
Editora do UOL Ciência e Saúde
Em São Paulo
Apenas 5% dos fumantes que tentam abandonar o vício sem ajuda especializada consegue manter a abstinência. A grande maioria acaba voltando a acender o cigarro depois de um ano. E a principal razão para desistir da resolução é o estresse, segundo pesquisa conduzida pelo Grupo de Apoio ao Tabagista do Hospital A. C. Camargo, em São Paulo.

O levantamento foi feito com 677 fumantes recorrentes atendidos pela equipe. O estresse foi relatado por mais da metade, ou 53%, dos pacientes que voltaram a fumar. Outros 13% culparam a necessidade de controlar tristezas como a causa da recaída, e 10% citaram a necessidade de diversão.

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Dentre os entrevistados, 68% atribuíram o retorno ao tabagismo aos motivos citados. Segundo a psiquiatra Célia Lídia da Costa, coordenadora do GAT, é mais difícil manter a abstinência quando o indivíduo não se responsabiliza pela recaída.

A médica ressalta que o tratamento do tabagismo evoluiu bastante nos últimos anos. "Antes não havia quase nenhum recurso para diminuir os sintomas da abstinência de nicotina, um dois pontos mais complicados para quem tenta largar o vício", conta. Atualmente, há medicamentos que podem ser administrados de acordo com o perfil de cada paciente, em associação a outras abordagens, como acompanhamento psicológico e orientações comportamentais. Evitar a recaída, no entanto, ainda é o maior desafio.

Em entrevista ao UOL Ciência e Saúde, ela dá dicas para quem quer abandonar o fumo de vez, mas reforça que a orientação é fundamental para se obter sucesso. A psiquiatra alerta que usar adesivos ou gomas de nicotina por conta própria, por exemplo, pode fazer o tiro sair pela culatra: muita gente utiliza o recurso junto com o próprio cigarro, o que aumenta a necessidade do organismo por nicotina e torna a interrupção ainda mais penosa.

UOL Ciência e Saúde: O que mudou na abordagem contra o tabagismo nos últimos anos?
Célia Lídia da Costa: Trabalho com tabagismo desde 1996. Naquela época, as coisas eram bem diferentes. Não havia quase nenhum recurso para diminuir os sintomas da abstinência de nicotina, um dois pontos mais complicados para quem tenta largar o vício. Já havia a possibilidade de importar o adesivo de nicotina, que ainda não era fabricado no Brasil, mas era muito caro e nem todos os pacientes podiam comprar. Hoje temos muitos recursos eficazes que facilitam o controle de sintomas indesejáveis. Mas a recaída ainda é um desafio. Ele enfrenta a fase da abstinência e volta por questões psicológicas e comportamentais.

UOL Ciência e Saúde: Quais os tratamentos que têm se mostrado mais efetivos no combate ao tabagismo?
Costa: Isso depende do perfil de cada paciente. Sabe-se, por exemplo, que há maior prevalência de depressão entre as mulheres, por isso normalmente elas são mais beneficiadas por tratamentos à base de antidepressivos. O que é preconizado em literatura nos mais reconhecidos protocolos de tratamento é a associação do tratamento farmacológico personalizado com o acompanhamento psicológico de orientação comportamental.

UOL Ciência e Saúde: Quais os efeitos colaterais mais comuns dos medicamentos usados nos tratamentos? E as contraindicações?
Costa: Os medicamentos, quando bem indicados, quase não trazem problemas, se muito alguma intolerância pessoal e rara. O risco é o uso sem orientação. Muitos chegam ao nosso grupo dizendo já ter usado de tudo, mas quando vamos avaliar, o uso foi todo incorreto. Há alguns efeitos e contraindicações especícicos que o médico vai avaliar, como histórico de convulsão, mas isso é relacionado a um tipo específico de remédio. Um risco bem frequente é a administração incorreta de repositores de nicotina e consequente dependencia destes, mas isso também é decorrente do uso inadequado.

UOL Ciência e Saúde: Quer dizer que não é recomendável usar repositores de nicotina sem orientação?
Costa: Há o risco de se aumentar a dependência de nicotina por uso abusivo ou por se associar o uso de repositores ao próprio cigarro. No fim, isso leva ao aumento da necessidade de nicotina no organismo. Comumente, vemos pessoas que fumam um maço ao dia acabarem fumando mais após uso de repositores sem a devida orientação. O recurso nunca deve ser associado ao cigarro, mas uma vez suspenso o uso. Sempre deve haver um acompanhamento se algum recurso farmacológico for necessário.

UOL Ciência e Saúde: De acordo com a sua pesquisa, o estresse é o fator que mais leva as pessoas à retornarem ao vício. Por que o cigarro promove essa sensação de relaxamento?
Costa: O cigarro altera toda a química cerebral e passa, depois de um tempo, a fornecer os efeitos que os indivíduos teriam normalmente através de sua própria química.
A nicotina é um estimulante indireto de neurotransmissores, por isso tem efeito antidepressivo e ansiolítico. Age, ainda, na química da concentração, da memória, interferindo em todo o funcionamento cognitivo.

UOL Ciência e Saúde: Quais as dicas para quem quer largar o vício?
Costa: É importante o fumante aumentar o autoconhecimento em relação ao hábito, das situações que propiciam o uso só por condicionamento, e passar a evitá-las, no começo. Depois, é importante que ganhem segurança e as enfrentem progressivamente, até para que sejam condicionados a novos padrões. Muito líquido é sempre bem-vindo e ajuda na desintoxicação, diminuindo a vontade de fumar e de comer. É um bom momento para mudar padrões sedentários de vida (sempre após avaliação médica). Com o fim do hábito, o ex-fumante ganha oxigênio e disposição para atividade física. Novos hábitos vão favorecer o processo de descondicionamento das atividades em relação ao uso de cigarros.

UOL Ciência e Saúde: A Sra. acredita que a lei antifumo que entrará em vigor em São Paulo terá impacto sobre o tabagismo? Já houve algum impacto no GAT?
Costa: Todo movimento de cercear a liberdade do fumante tem repercussão direta, não só no desejo dos fumantes em querer parar, mas no modo como a sociedade enxerga esse hábito. A ideia de glamour foi dando lugar ao conceito marginalizado que o cigarro tem hoje. Mas a medida vem, na verdade, para diminuir as consequências do fumo passivo, que, segundo a OMS, é a terceira maior causa evitável de morte no mundo, superada apenas pelo fumo ativo e pelo alcoolismo. O fumo passivo aumenta em 30% o risco de câncer de pulmão e em 24% o risco de infarto do miocárdio. Também aumenta em cinco vezes do risco da síndrome da morte súbita do recém-nascido. É uma situação séria, ainda pouco conhecida pela opinião pública.

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