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13/05/2009 - 12h16

Influenza A (H1N1) coloca em xeque a produção de vacina contra a gripe sazonal e divide comunidade médica

Rayder Bragon Especial para o UOL Notícias Em Belo Horizonte
O vírus Influenza A (H1N1), causador da gripe suína, provocou um impasse entre as autoridades mundiais de saúde: continuar fabricando em escala mundial a vacina contra a gripe sazonal, que acomete milhões de pessoas e também provoca mortes, ou concentrar esforços em produzir, também em escala mundial, a nova vacina contra a Influenza A, que deverá estar pronta em poucos meses.

  • Rayder Bragon/UOL

    Unaí Tupinambás (UFMG): "A grande discussão que se faz nesse momento é se será viável continuar fabricando em escala mundial a vacina contra a gripe sazonal ou se partimos para a produção em larga escala da nova vacina contra a Influenza A (H1N1), que deverá estar pronta em quatro meses"

A avaliação é do médico infectologista e professor Unaí Tupinambás, da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), que há 20 anos lida com doenças contagiosas. Com doutorado e mestrado em doenças infecto-contagiosas pela UFMG, ele prevê que as medidas de contenção da disseminação da nova gripe terão a prova de fogo durante o outono/inverno no Hemisfério Norte (que começa em setembro).

Leia a seguir trechos da entrevista concedida ao UOL Notícias, em Belo Horizonte, durante mesa redonda que debateu a doença, na noite desta terça-feira (11), e contou com a participação de médicos, autoridades sanitárias do Estado e jornalistas:

UOL - Pesquisa da Universidade Imperial College de Londres sugere que 1/3 da população mundial poderá ser afetada pela gripe suína dentro de seis a nove meses. Há motivo para pânico? Qual é o quadro atual da doença?
Unaí Tupinambás -
A taxa de infecção de doenças infecciosas transmitidas pelo ar sempre é muito alta. Ainda não sabemos ao certo a taxa de morbidade da Influenza A (H1N1). Ao que tudo indica até o momento, essa taxa é muito baixa. Mas ainda é uma previsão, a prova de fogo das autoridades sanitárias deverá ocorrer no próximo outono do Hemisfério Norte, quando poderá haver um surto, uma pandemia desta doença.

A grande discussão que se faz nesse momento é se será viável continuar fabricando em escala mundial a vacina contra a gripe sazonal, que todo ano acomete 3 milhões de pessoas e causa cerca de 250 mil mortes no mundo em decorrência de suas complicações, ou se partimos para a produção em larga escala da nova vacina contra a Influenza A (H1N1), que deverá estar pronta em quatro meses.

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Será que esses números (de uma provável pandemia) vão se concretizar? A gente não sabe. O que tem se mostrado, principalmente no México (país onde teria surgido a doença), é que o número de pessoas infectadas pelo vírus da gripe suína e que não desenvolveram sintomas da doença foi muito maior do que o número de pessoas que tiveram os sintomas. Em outras palavras, a pessoa teve contato com o vírus, mas não manifestou a doença. Se não estou enganado, o cálculo das autoridades mexicanas falava em 23 mil pessoas. Não há estrutura instalada no mundo que dê conta de fabricar as duas vacinas simultaneamente em escala global.

Por outro lado, se realmente houver o pior dos quadros (1/3 da população infectada), não sabemos qual a proporção de pessoas que desenvolverá a doença, ainda existem muitas perguntas sem respostas.

UOL - A comunidade médica está em compasso de espera em relação à vacina?
Tupinambás -
Não, as autoridades sanitárias mundiais estão discutindo isso neste momento: qual será o caminho a ser trilhado. Não podemos esperar muito tempo para tomar a decisão porque senão não teremos tempo hábil para trocar a produção de uma vacina por outra. Temos de ter esse estoque da vacina antes do período crítico, que é o outono do Hemisfério Norte. Então, essa produção tem de estar pronta no final de agosto. O problema é que eu não sei em que eles irão se basear para tomar essa decisão, pois estudos estão saindo a cada hora, com um dado novo.

UOL - O senhor conseguiu aferir o pânico gerado entre a população pela ameaça do Influenza A (H1N1)? E se houve pânico, quem foram os culpados?
Tupinambás -
Logicamente, quando as pessoas ouvem esse tipo de notícia há uma tendência ao pânico, isso é normal. Mas qual é o papel das autoridades? É mostrar o real problema da doença, que se mostrou não ser tão letal quanto se preconizava no início. Assim, todos os pronunciamentos dados pelas autoridades de saúde foi no sentido de procurar tranquilizar a população para que não houvesse pânico. O papel da imprensa foi importante, embora muitas vezes tenha havido excessos por parte de alguns órgãos, mas que eram minimizados com outras matérias de outros órgãos menos sensacionalistas. No mais, a imprensa se colocou como nossa parceira para orientar as pessoas. Neste momento, há motivo para preocupação, mas não para pânico. O monitoramento das pessoas tem de continuar, a vigilância nos aeroportos tem de ser continuada, mas sem alarmismo.

UOL - As medidas tomadas pelas autoridades foram corretas ou ainda cabem reparos nas formas de tentar controlar a disseminação da doença?
Tupinambás -
As medidas de prevenção e precaução foram tomadas e, a meu ver, elas surtiram efeito, principalmente no México, onde aulas foram suspensas, jogos de futebol foram realizados sem torcida nos estádios, as pessoas foram aconselhadas a ficar em casa. Tudo para evitar aglomeração de pessoas. Temos de deixar claro uma coisa: o risco de uma pandemia não está descartado, a Influenza sempre será uma doença reemergente, cujo vírus vai se transformar e gerar uma nova cepa, ela está sempre se reinventando. Dou exemplo da gripe aviária, que tivemos há uns três anos, e estava associada à Influenza. É o preço que pagamos pelo nosso "modus operandi" de vida, como lidamos com o meio ambiente, com produtos cada vez mais industrializados, distâncias entre países sendo cada vez mais encurtadas pelos aviões. Sem falarmos nas condições precárias de saneamento básico, de moradias.

UOL - E no Brasil, como está a situação?
Tupinambás -
Desde o início, o Ministério da Saúde se posicionou prontamente, monitorando os casos. Acho que a estrutura montada em 2005 para combater a gripe aviária foi fundamental para que uma resposta fosse dada com mais agilidade. O Ministério da Saúde instrumentalizou vários hospitais desde então, o que dá uma retaguarda maior. É lógico que houve desacertos, em casos pontuais. O próprio SUS (Sistema Único de Saúde), apesar de suas dificuldades, tem postos de saúde espalhados em diversas regiões do país. Essa capilaridade, associada às campanhas já montadas para vacinação em massa, dão um respaldo em caso de surto da doença. Nós estamos preparados para o caso de uma pandemia e temos um poder de mobilização bastante aceitável.

UOL - Houve uma reação mais contundente a essa gripe, mas o país vive uma série de epidemias não controladas, como a dengue, e endemias. A que se deve isso?
Tupinambás -
Não há mais destaque para uma ou outra doença. A dengue, por exemplo, sempre foi discutida na comunidade médica. Sempre houve campanhas para conscientizar as pessoas do perigo da dengue. O problema é que a gripe suína surgiu como uma emergência. Então ela está sendo tratada como tal. E, quando passar esse período de emergência, ela será uma doença a mais para preocupar as autoridades sanitárias dos países. Por isso não podemos descuidar da dengue, da tuberculose, do HIV, e agora também da gripe suína.

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