Relatório divulgado no último sábado (11) pela rede internacional Médicos do Mundo afirma que os casos de dengue registrados na Argentina já são 40 mil, número que sugere a declaração do Estado de Emergência Nacional. Já o Ministério de Saúde argentino diz que são apenas 14.500 os infectados.
Os especialistas da rede suspeitam de uma mutação do vírus na Capital do país e nos arredores da cidade de Buenos Aires, devido ao aparecimento de uma série de casos de tipo "duvidoso" que poderiam ser próprios da região, o que agravaria ainda mais o cenário.
O relatório, lançado em um comunicado da instituição, afirma que a existência da epidemia está sendo negada. Em consequência disso, não foram tomadas as medidas preventivas necessárias para evitar a sua propagação.
A dengue assola o país desde o começo do ano e espera-se que, com o retorno dos turistas deslocados pelo país pelo feriado da Páscoa, a epidemia se espalhe pela zona central do país, situação que não ocorria desde os anos de 1970.
Os números oficiais do governo revelam 5 mortos: 3 em Charata, Chaco, e 2 em Tartagal, Salta, no norte do país. Ainda faltam confirmar outras três mortes.
Ariel Umpiérrez, presidente da ONG Médicos do Mundo, com projetos humanitários em diversos países por todo o mundo, afirmou que a falta de "medidas sérias e responsáveis para enfrentar a doença", fez com que ela se propagasse pelo resto do país. O surto, que começou no norte da Argentina, já afeta hoje 14 das 23 províncias do país.
Para a organização humanitária na Argentina, há uma "evidente manipulação" ou "ocultamento" dos dados da propagação da doença e uma "ausência do Estado nas ações de prevenção e controle nos últimos 10 anos". A ONG denuncia, em comunicado, que o direito à informação confiável da população sobre a doença deve ser respeitado e recomenda o lançamento de "um plano integral de prevenção e promoção casa-a-casa nas províncias afectadas pela epidemia."
O médico Ernesto Trivisonno, ex-subsecretário da Saúde do Governo da Cidade de Buenos Aires e fundador de programas de saúde tais com o "Médicos de Cabecera" e "Pediatra en Casa", explicou também que o problema é que nada foi feito, "nem falar de obras estruturais necessárias como o aqueduto de água potável para o Chaco (Estado mais atingido pela doença), onde a maioria da população não tem saneamento básico em casa."
Mutação do vírusA doença, propagada pelo mosquito
Aedes Aegypti, está se espalhando pela Argentina e o ministro da Saúde da província de Buenos Aires Claudio Zin admitiu ser inevitável a chegada da doença ao Distrito. "No ano passado, tivemos casos de dengue importados do sul do Brasil, da Bolívia e do Paraguai. Sobre uma população de 11 milhões de pessoas na Província de Buenos Aires, temos 107 casos e uma dezena de casos autóctones (contraídos no próprio local em que o paciente vive) estão sendo analisados".
Estes casos estão sendo analisados no Instituto Nacional de Enfermedades Virales Humanas (Inevh), pelos órgãos governamentais, já que as organizações suspeitam que o vírus tenha tomado características próprias nessa região devido a uma série de mutações. Isso intensificaria os riscos da doença e dificultaria ainda mais a sua erradicação. Sobre esta hipótese, Zin afirma que "há suspeitas, mas, até se confirmarem, são suposições". Se estas suposições forem confirmadas, ele diz que "tudo está pronto para atender a demanda de doentes pelos futuros casos da doença".
Para o Ministro de Saúde, se confirmada a mutação, a estratégia de prevenção não mudará substancialmente. O governo continuará com as fumigações e com atenção redobrada nos hospitais. Intensificará, no entanto, as campanhas de sensibilização "porque o risco de contágio poderá ser muito maior", disse.
Risco para turistasSegundo o secretário executivo do Instituto de Promoção Turística (Inprotur) argentino, Leonardo Boto Alvarez, a Argentina "não está em perigo como destino turístico."
Em declarações a um importante jornal do país, Alvarez afirmou que "há muitos destinos importantes da América do Sul que têm febre amarela, dengue, e têm administrado bem a situação. Para isso, criamos um comitê de crise com o Ministério da Saúde para trabalhar com a atividade turística e coincidir numa mensagem que não crie o terror nem gere expectativas desmedidas. Queremos uma mensagem clara, com apoio e respaldo científico, para aqueles que visitem as zonas afetadas pela epidemia."