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03/06/2008 - 23h00

Endometriose ainda é um enigma para os médicos, diz especialista

Tatiana Pronin
Editora do UOL Ciência e Saúde
Principal causa de infertilidade feminina, a endometriose ainda representa um enigma para ginecologistas e especialistas em reprodução assistida. O problema afeta entre 5% e 15% das mulheres em idade fértil, mas muitas demoram anos para receber um diagnóstico.

A doença é caracterizada pela presença de tecido endometrial (aquele que reveste o interior do útero e é expelido durante a menstruação) em lugar errado, ou seja, fora da cavidade uterina. Os principais sintomas são dores intensas durante o período menstrual ou a ovulação. Também pode haver alterações na micção e no funcionamento do intestino, além de dor durante a relação sexual.

Os sintomas podem ser tratados com remédios, mas alguns casos exigem cirurgia, especialmente quando a doença afeta a fertilidade. Cerca de 30% a 40% das mulheres que buscam tratamentos para engravidar sofrem com o problema. "O tratamento medicamentoso é muito eficaz no controle da dor, porém não cura a doença", explica o ginecologista Ricardo Pereira, professor da Universidade de Londrina. Já a cirurgia pode aumentar a chance de mulheres com quadros leves a moderados de endometriose engravidarem com inseminação artificial, segundo ele.

Reprodução
Médicos encontram novas formas de tratar a endometriose, doença que prejudica a qualidade de vida e a fertilidade
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Pereira é autor, junto com os médicos Paulo Serafini, Eduardo Motta, Marcio Coslovsky e Isaac Yadid - todos diretores da clínica Huntington, do livro "Endometriose - Resolvendo a Dor e o Sonho de Ser Mãe" (Ed. Manole), que reúne inúmeros relatos de mulheres que passaram de médico em médico até obter alívio para os sintomas. Em entrevista ao UOL Ciência e Saúde, ele explica por que ainda é difícil diagnosticar o problema.

UOL Ciência e Saúde: A endometriose é mais comum hoje ou apenas tem sido diagnosticada com mais freqüência?
Ricardo Pereira: Não temos ainda evidencias científicas para responder essa questão. No entanto, muitos médicos acreditam que as doenças estrogênio-dependentes, ou seja, que sofrem a influência do hormônio estrogênio, como a endometriose, vêm aumentando nas últimas décadas. Há várias suposições para as causas desse aumento. Hoje, as mulheres procuram mais respostas e buscam soluções para seus incômodos e sofrimentos, como a dor durante a menstruação e a infertilidade. Outra questão é que, no passado, as mulheres recebiam uma menor carga do hormônio estrogênio (que serve de combustível para o desenvolvimento e não para o aparecimento da endometriose), pois engravidavam mais cedo, mais freqüentemente, e também amamentavam mais vezes e por mais tempo.

UOL Ciência e Saúde: Por que é tão difícil diagnosticar a doença? O ultrassom pélvico, que as mulheres costumam fazer rotineiramente, não detecta o problema?
Pereira: Basicamente porque os sintomas são muito variáveis e, principalmente, por estar localizada no interior da cavidade pélvica. O ultrassom pélvico diagnostica a doença quando a lesão está na forma de cisto e localizada no ovário. Já em outras localizações, como nas regiões atrás do útero (o que é muito freqüente), no intestino, ou na bexiga, por exemplo, é preciso um ultrassonografista especializado para identificá-las. Estamos iniciando uma nova era no diagnóstico da endometriose com o exame ultrassonográfico especializado, que é recente em termos globais. Precisamos formar mais profissionais com esta capacidade, é uma avaliação diferente da tradicional e que se faz rotineiramente. O exame demanda a limpeza do intestino, requer mais tempo e um profissional capacitado.

UOL Ciência e Saúde: Quais os principais sintomas da endometriose?
Pereira:Toda dor que aparece ou piora no período menstrual ou durante a ovulação pode ser originada pela endometriose, assim como alterações na micção e no funcionamento do intestino que aparecem ou se modificam com a fase menstrual. Além disso, dor durante a relação sexual, quando o pênis toca no fundo da vagina, e infertilidade podem ser originadas pela doença.

UOL Ciência e Saúde: O que se sabe, hoje, sobre a causa da endometriose?
Pereira: Muito pouco, em termos práticos. Continua sendo uma doença enigmática, como há um século atrás: não sabemos a causa, não conhecemos bem a história natural da doença, conhecemos pouco os mecanismos que causam a dor nas mulheres com endometriose e também como ela pode levar à infertilidade feminina.

UOL Ciência e Saúde: Toda mulher que sofre de endometriose tem dificuldade para engravidar?
Pereira: Não. Aproximadamente 40% das chamadas 'formas infiltrativas profundas' podem levar à infertilidade, temporária ou permanente. Já a forma superficial da doença pode não ter tanta influência na fertilidade.

UOL Ciência e Saúde: Como é a cirurgia para tratar a endometriose?
Pereira: A cirurgia tem que buscar a retirada de todos os focos da lesão. Quanto mais livre de lesões endometrióticas ao término da cirurgia, melhor será o resultado em relação aos sintomas e à fertilidade. Hoje, ela deve ser realizada através da cirurgia laparoscópica (minimamente invasiva), se o cirurgião estiver capacitado com este método cirúrgico. Também pode ser feita pela cirurgia tradicional, porém há várias desvantagens em relação à cirurgia minimamente invasiva.

UOL Ciência e Saúde: Há alguma forma de evitar a doença?
Pereira: Como é impossível voltar ao passado, onde as mulheres engravidavam muito jovens e várias vezes, além de amamentar mais e por mais tempo, diria que não. Na luz dos conhecimentos atuais, não há nenhum método que venha prevenir a doença e que tenha comprovação ou evidência cientifica. A pílula, como qualquer outro medicamento usado para a endometriose, pode melhorar os sintomas, mas não tem qualquer papel na cura ou no desaparecimento da lesão.

Serviço:
Endometriose - Resolvendo a Dor e o Sonho de Ser Mãe
Autores: Paulo Serafini, Eduardo Motta, Ricardo Pereira, Marcio Coslovsky e Isaac Yadid
Editora: Manole
Preço: R$ 38,00 (224 págs.)





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