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09/05/2008 - 19h12

Sem tratamento, transtorno bipolar aumenta propensão a doenças

Tatiana Pronin
Editora do UOL Ciência e Saúde

Arquivo Folha Imagem

Montanha-russa de emoções: os altos e baixos do transtorno bipolar têm efeito cumulativo

Montanha-russa de emoções: os altos e baixos do transtorno bipolar têm efeito cumulativo

Todo mundo tem altos e baixos na vida. Para algumas pessoas, no entanto, essa oscilação de humor é provocada por uma doença, o transtorno bipolar, que afeta cerca de 3% da população mundial.

Nas fases de mania, quem sofre do distúrbio apresenta euforia, irritação ou alegria intensa, falta de sono, sentimentos de grandiosidade, tendência à promiscuidade sexual e a gastar dinheiro excessivamente. Nas fases de depressão, a pessoa fica sem energia, cultiva pensamentos negativos e a auto-estima é abalada.

Cerca de 70% dos casos de transtorno bipolar são diagnosticados incorretamente como depressão. "Em geral, as pessoas só buscam ajuda quando estão deprimidas", justifica o psiquiatra Flavio Kapczinski, pesquisador do Laboratório de Psiquiatria Molecular do Hospital das Clínicas de Porto Alegre.

Outro motivo para a confusão é que muita gente pode ter apenas um episódio curto de euforia, seguido de um longo período de depressão, o que faz a oscilação passar despercebida. Um dos problemas do diagnóstico equivocado é que, quando um bipolar é medicado com antidepressivos, as fases de mania podem ser deflagradas.

Prejuízo acumulado

Segundo Kapczinski, que coordenou um estudo inovador sobre o assunto, uma proteína produzida no cérebro, chamada BDNF, tem forte ligação com a doença. Cientistas já tinham verificado que pessoas deprimidas apresentam baixos índices de BDNF, mas o psiquiatra e sua equipe descobriram que os níveis da proteína também decrescem durante os episódios de euforia. Os resultados do trabalho serão apresentados no 4º Congresso Brasileiro Cérebro, Comportamento e Emoções, que acontece entre os dias 21 e 24 de maio, em Bento Gonçalves (RS).

Em outro estudo, publicado na revista "Neuroscience and Biobehavioral Reviews", este ano, Kapczinksi observou que o estresse provocado por ocorrências sucessivas de episódios maníacos ou depressivos gera uma espécie de efeito cumulativo prejudicial aos neurônios, denominado "carga alostática". A alostase é a capacidade do organismo de se adaptar a determinada situação. Ao tomar um susto, por exemplo, a freqüência cardíaca aumenta. Já quando o estresse é prolongado, a reação de alarme não se desfaz e há um desgaste físico e neural.

"A proteína BDNF protege o cérebro de certas substâncias que têm efeito tóxico", diz. É por isso que, com o tempo, o bipolar pode ter cada vez mais dificuldades para administrar o transtorno. Além do prejuízo psicológico e social, há o aumento de fatores inflamatórios e um estresse oxidativo que, juntos, aumentam o risco de doenças cardiovasculares e metabólicas, como obesidade e diabetes.

Tratamento

O tratamento do transtorno bipolar é feito com os chamados estabilizadores de humor, remédios como o carbonato de lítio, o valproato e a carbamazepina. Também pode-se usar a lamotrigina nas fases depressivas e, nos episódios de mania, antipsicóticos como a olanzapina e a risperidona.

A dificuldade, para os médicos, é saber qual medicamento irá funcionar, já que cada um reage de forma diferente. Kapczinski e sua equipe receberam financiamento de uma agência internacional para, a partir das descobertas com a BDNF, desenvolver uma maneira de prever qual será a resposta do paciente à medicação e, assim, controlar melhor a doença.

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