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05/03/2008 - 07h26

Futuro das pesquisas com embriões pode ser definido nesta quarta-feira

Ana Sachs
Da Redação*
Lucas Nader Bartholomeu tem 23 anos e é portador, desde os 11, de distrofia muscular - doença genética que causa a degeneração progressiva do tecido muscular. Para ele, que tem dificuldade para subir escadas, levantar da cadeira e não consegue correr, as pesquisas com células-tronco embrionárias representam uma chance de cura.

"Tenho muita esperança. Acho que as pesquisas vão mudar a minha vida e a de muita gente, pois vão nos permitir desenvolver todo o nosso potencial"

Lucas Nader Bartholomeu, tem 23 anos, portador de distrofia muscular

"Embriões são pessoas humanas que estão congeladas, não são apenas um grupo de células"

Dom Antonio Augusto Dias Duarte, médico, bispo auxiliar do Rio de Janeiro e membro da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da CNBB

"O embrião é, sim, uma forma de vida humana. Mas a questão é discutir em quais formas de vida humana podemos interferir"

Lygia Veiga Pereira, chefe do Laboratório de Genética Molecular do Instituto de Biociências da USP

"É muito difícil controlar a proliferação das células embrionárias, por isso tantos cientistas estão migrando para as pesquisas com células adultas induzidas, muito mais promissoras. Dizer que só as embrionárias trazem possibilidade de cura é uma propaganda enganosa e cruel"

Claudia Batista, professora do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ
OPINIÕES
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"Tenho muita esperança. Acho que as pesquisas vão mudar a minha vida e a de muita gente, pois vão nos permitir desenvolver todo o nosso potencial", diz. Os amigos de Lucas que têm a mesma doença dividem a mesma opinião. "É uma unanimidade", afirma.

Urias Antonio de Oliveira Junior, 23 anos, ficou paraplégico no último dia de dezembro de 2006 devido a um acidente de carro. De família católica e praticante da religião, ele também defende as pesquisas com células-tronco embrionárias. "Quem é contra é porque não tem um caso na família e acaba julgando do lado errado", acredita.

Já Paulo Polido, de 28 anos, paraplégico desde os 18 anos devido a um acidente de moto, está fazendo tratamento com células-tronco adultas no Hospital das Clínicas de São Paulo desde 2002, com bons resultados. Ele, que andava de cadeira de rodas, voltou a ter sensibilidade em algumas partes do corpo e já utiliza o andador. Sobre as células-tronco embrionárias, questiona: "Se vai ser jogado fora, porque não utilizar?".

Portadores de doenças como Lucas, Urias e Paulo aguardam, ansiosos, o julgamento que acontece nesta quarta-feira no STF (Supremo Tribunal Federal). Onze ministros votam contra ou a favor da Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) movida pelo ex-procurador-geral da República Claudio Fonteles contra o artigo 5º da Lei de Biossegurança , de 2005. A regulamentação prevê que embriões congelados há três anos ou mais sejam doados para pesquisas, caso os genitores autorizem.

A ação de Fonteles foi proposta com base no artigo 5º da Constituição Federal, sobre a "inviolabilidade do direito à vida". A polêmica fez o STF convocar, em abril de 2007, a primeira audiência pública de sua história, com a participação de cientistas contrários e favoráveis às pesquisas com embriões. Quase um ano depois, os ministros devem divulgar seu parecer.

Células-tronco adultas
Desde a realização da audiência pública, dois estudos científicos publicados reforçaram o coro dos pesquisadores contrários ao uso de embriões.

Uma equipe japonesa, conduzida por Shinya Yamanaka, da Universidade de Kyoto, e outra norte-americana, liderada por James Thomson, da Universidade de Wisconsin, conseguiram fazer células da pele humana agirem como células-tronco pluripotentes. Em ambos os casos, a reprogramação foi conseguida a partir da inserção de genes nas células por meio de um retrovírus.

Há cerca de três semanas, o grupo conduzido por Yamanaka anunciou outro feito : os cientistas conseguiram reprogramar as células-tronco adultas sem risco de gerar tumores, um obstáculo comum nesse tipo de pesquisa.

Na visão de Claudia Batista, professora do instituto de ciências biomédicas da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), os estudos comprovam que insistir nas células-tronco embrionárias é um erro. "É muito difícil controlar a proliferação das células embrionárias, por isso tantos cientistas estão migrando para as pesquisas com células adultas induzidas, muito mais promissoras", diz. "Dizer que só as embrionárias trazem possibilidade de cura é uma propaganda enganosa e cruel", conclui.

Para Lygia Veiga Pereira, chefe do Laboratório de Genética Molecular do Instituto de Biociências da USP (Universidade de São Paulo), as descobertas são importantes, mas não diminuem a importância das pesquisas com células embrionárias. "Nenhum cientista sério pode dizer que existe uma célula adulta com a mesma versatilidade da célula embrionária", avalia.

Clínicas de reprodução
Se os ministros do STF vetarem as pesquisas com células embrionárias, as clínicas de reprodução assistida do país terão que lidar com um problema prático: o que fazer com os milhares de embriões abandonados pelos genitores ou sem viabilidade de implantação.

DOENTES DEFENDEM PESQUISAS
Segundo o ginecologista e obstetra Eduardo Motta, um dos diretores da clínica Huntington, de São Paulo, nem todas as famílias são favoráveis à doação para terceiros. "Há o temor, por exemplo, de que os filhos venham a encontrar os irmãos e, eventualmente, até se casem sem saber do parentesco", relata.
Motta relata que muitos casais se recusam a pagar a taxa de manutenção, de aproximadamente R$ 500 ao ano, e desaparecem, transferindo a responsabilidade para as clínicas, que são impedidas de descartar os embriões.

*Colaborou Tatiana Pronin

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